Conta-se que um índio, certa feita, foi levado ao centro de uma grande cidade.
Seus olhos não conseguiam acreditar na altura dos edifícios e ele mal conseguia acompanhar o ritmo frenético das pessoas indo e vindo.
Espantava-se com o barulho ensurdecedor das sirenes, dos automóveis e das pessoas falando em voz alta.
De repente, ele falou: Ouço um grilo...
Espantado, quem o acompanhava, disse:
Impossível ouvir um inseto tão pequeno nesta confusão!
O índio insistiu que ouvia o cricrilar de um grilo. Tomou o amigo pela mão e o levou até um canteiro de plantas.
Afastando as folhas, apontou para o pequeno inseto.
Inacreditável! Disse o rapaz.
O índio lhe pediu algumas moedas e as jogou na calçada.
Quando se ouviu o tilintar do metal, várias pessoas se voltaram para o local.
Então, explicou: Escutei o grilo porque os meus ouvidos estão acostumados com esse tipo de barulho. As pessoas aqui ouvem o dinheiro caindo no chão porque foram condicionadas a reagir a esse tipo de estímulo.
E concluiu: A gente ouve o que está acostumado ou treinado para ouvir.
* * *
É importante fazer algumas reflexões sobre os ensinos em torno deste fato.
Vivemos mergulhados numa infinidade de ruídos, de barulhos estranhos, num mundo em que grande parte de nós somente responde ao estímulo de um tilintar de moedas.
É preciso adestrar nossa audição para ouvir os mínimos sussurros que passam despercebidos, em meio à nossa agitação.
Nesse mundo barulhento deixamos de ouvir sons de profunda beleza, como a melodia suave da brisa da manhã ou a sonoridade encantadora do bater das asas de um beija-flor.
Em meio a tantos interesses materialistas, a homenagem que as velhas e frondosas árvores rendem a cada amanhecer, com a canção da sua folhagem, não nos sensibiliza a audição.
O ritmo frenético em que vivemos não nos permite ouvir a cantoria dos pássaros, o coaxar das rãs, o piar da coruja solitária que busca refúgio nas grandes cidades.
É preciso treinar a audição mas também desenvolver outras sensibilidades que, por vezes, parecem amortecidas.
Deixar que o nosso coração se enterneça diante do apelo silencioso de uma criança sem lar...
Do soluço abafado de alguém que perambula sem esperança...
De um pedido de socorro que não chega a vibrar nas cordas vocais...
Do gemido quase mudo que vem do leito de dor da casa vizinha...
Enfim, é preciso preparar todos os sentidos para que possamos ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. Mas, acima de tudo, um coração para sentir...
* * *
Ao abrir os olhos a cada manhã, prestemos atenção em tudo o que Deus pretende nos mostrar neste dia.
Agucemos os ouvidos para ouvir tudo o que Deus quer que ouçamos.
Alertemos nossa razão e permitamos que o nosso coração se sensibilize.
Afinal, para ouvir e sentir os sussurros de Deus, é necessário abrir os ouvidos da alma, com o desejo de quem quer ouvir todos os recados da brisa suave, do vento cantante, da água murmurante, dos pios delicados de quem acabou de sair da casca no ninho próximo.
Os sussurros de Deus... Ouçamos.
Redação do Momento Espírita, com base
em história de autoria desconhecida.
Em 1º.7.2022.
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