O incêndio irrompera devastador. Em desespero, imaginando que sua família estaria dentro da casa, Daniel chegou correndo.
Gritava pelo nome da esposa e dos filhos, enquanto os bombeiros o impediam de mergulhar nas chamas.
Alguns instantes depois, descobriu que sua esposa e filhos não estavam na casa. Tinham saído para um lanche em pizzaria próxima.
Abraçaram-se todos. Agora, o desespero era ver a casa ser consumida tão rapidamente pelas chamas. Ele nem acabara de pagar o financiamento e tudo estava destruído.
Sentia-se impotente, desanimado. Seguiu com a família para a casa do seu pai, onde se acomodaram.
Um ar pesado pairava pelos aposentos. Sua irmã, seu irmão, o avô, a sobrinha vieram para confortá-los.
Chegou o momento do jantar. Daniel se dizia sem fome mas o pai insistiu para que viesse à mesa, estivesse ao lado da sua família.
Ele se deixou ficar no quarto um tanto mais. Sentia como se lhe faltasse o chão. Que fazer, agora? Como começar tudo de novo, recompor todas as perdas?
Como ninguém ousasse iniciar a refeição sem a sua presença, ele resolveu assentar-se com eles.
Então, pediram-lhe que ele conduzisse os pensamentos na habitual prece de agradecimento, antes de iniciarem a refeição.
Hoje, não. Foi a resposta dele. Não creio que eu tenha alguma coisa para agradecer. Nem temos mais um lar.
A esposa, tomando-lhe a mão e a apertando forte, lhe disse:
Perdemos a casa, o lar ainda o temos porque o lar somos nós.
E o pai, sábio, ponderou:
Filho, agradeçamos por estarmos todos juntos. Agradeçamos por ninguém se ter ferido. Agradeçamos pela família que somos.
Entre lágrimas, Daniel iniciou a prece de gratidão. E, como soluços sentidos lhe impedissem a fala, a esposa continuou, os filhos se uniram e, por fim, juntos oraram em voz alta.
* * *
Possivelmente, em determinados dias, as dificuldades são tantas que o desânimo nos abraça.
O acúmulo das dores é tão grande que nos parece uma montanha intransponível.
Nosso desejo é que o mundo parasse, porque nos sentimos como alguém que perdeu todas as batalhas e nada mais tem a fazer.
Nessas horas, talvez nos indaguemos se temos algo a agradecer. Talvez, até, não nos sintamos motivados à oração.
Olhemos ao redor e verifiquemos: temos família? Agradeçamos pela sua existência.
Temos amigos, um somente que seja? Agradeçamos por ele.
Temos um emprego, um salário, uma ocupação? Agradeçamos por isso.
Temos um lugar para repousar a cabeça? Agradeçamos, não importando seja pequeno, velho, necessitando reformas, pintura, reboco.
E, se por acaso, não tivermos afetos, nem amigos, nada mais, agradeçamos a vida que pulsa em nós. Agradeçamos a lucidez de nossa mente, a capacidade de pensar.
E busquemos apoio. Sempre haverá, em algum lugar, uma nova chance, um amigo que possamos fazer, alguém que nos possa auxiliar.
Pode parecer difícil. Mas não é impossível. Verifiquemos quantos padeceram perdas terríveis e conseguiram se reerguer.
Isso porque os filhos de Deus nunca estaremos desamparados. Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base
em episódio da série Blue Bloods.
Em 14.4.2020.
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