A discussão chegara aos tribunais. A jovem, com dois filhos pequenos, desejava ardentemente que o seu pedido de transplante fosse aprovado pelo seu convênio médico.
Ela descobrira, ao final da última gestação, um grave comprometimento no fígado, inicialmente tratado através de sofisticada técnica de radiação, cujo resultado fora ainda mais desastroso.
Para sua infelicidade, algo acontecera durante os procedimentos e o nobre órgão acabara sendo lesado, não lhe permitindo viver senão poucos meses.
Lutava pelo direito ao transplante. Mas, vários fatores estavam contra ela: a longa fila de espera, a disponibilidade de um fígado compatível, os altos valores envolvidos e, finalmente, a expectativa de vida estabelecida pelos médicos: no máximo, uns quatros anos.
Valeria a pena investir tanto nela, em detrimento de outra pessoa que, por suas condições gerais, teria um adicional de vida maior?
A questão era: de que valeriam mais quatro anos de vida? Seus filhos não teriam se tornado adultos, nem seriam independentes. Ainda seriam crianças.
A resposta da senhora, entre a emoção e as lágrimas, surpreendeu: Seriam quatro anos a mais que eu poderia estar com os meus filhos, vê-los crescer.
Ensinaria ao meu filho atar os cadarços dos sapatos, a pentear seu cabelo, escolher a roupa apropriada à estação e se vestir, sozinho.
Seriam mil quatrocentas e sessenta noites em que eu estaria com ele, na hora de escovar os dentes, de abraçá-lo, desejar boa noite, ler uma história e orar.
Em quatro anos ele estaria na escola e eu o auxiliaria com as primeiras letras, descobrindo as palavras, as frases.
Quanto à bebê, já a terei ensinado a andar, a falar, a amar as flores e as pessoas.
Nem posso imaginar quantos sorrisos eu poderia oferecer aos meus filhos em quatro anos e quantos eles me retribuiriam.
Um tempo precioso. Quatro períodos de férias em que eu, meu marido e as crianças desfrutaríamos da praia, da montanha, do lago.
Seriam mais quatro Natais, quatro aniversários, quatro comemorações de Ano Novo.
* * *
Ouvindo tudo isso, com certeza, sentimos o coração apertar e cogitamos de quantas mães não puderam ver seus filhos crescerem, levadas pela morte acidental ou por enfermidade.
Quantos filhos não tiveram o carinho delas por iguais motivos.
E tudo nos leva a pensar na preciosidade da vida e do tempo.
A pensar em quantas horas, quantos dias desperdiçamos, quando estamos ao lado dos nossos amores.
Importante nos darmos conta de que as horas não voltam e, por isso, devemos usufruir, amplamente, a presença dos filhos, esposos, pais, irmãos, amigos.
Vivermos intensamente ao lado deles porque quando um se for, ou nós mesmos nos tivermos que despedir, o que sobrará será somente uma doce saudade.
Saudade de momentos de prazer, de alegria, de descontração. Mesmo de aprendizado.
Haverá muito para recordar, muito mais do que fotos e vídeos: uma intensa relação vivida, sentida e arquivada na intimidade da alma.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base
em episódio da série televisiva Bull.
Em 12.3.2020.
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