Aquela senhora parecia estranha. Bateu à porta dos rapazes, que apenas haviam adentrado o apartamento, para oferecer seus biscoitos. Sinal de boas vindas. Receita especial, frisou.
E foi entrando, se sentando na sala e falando de tudo e de coisa nenhuma. Por fim, entre lágrimas, disse que fora vítima de um furto.
Por que não recorria à polícia? Bom, a polícia se interessaria em investigar o furto de uma planta? Era sua planta de estimação, uma samambaia.
Espécie? Ora, era uma samambaia comum mas que compartilhava sua vida há seis anos.
Ela a tinha colocado no corredor, do lado de fora do seu apartamento, para conferir um pouco de alegria ao local. E alguém a furtara.
Os rapazes se compadeceram da sua tristeza, que transparecia nas faces esculpidas pelo tempo.
Pediram a um amigo, que adorava investigar situações que pareciam intrincadas, que fizesse algo por ela.
Ele se entusiasmou. Colocou uma samambaia nova no mesmo local da anterior, instalou uma câmera de vigilância e ficou assistindo horas e horas de gravações, por dias inteiros.
Ninguém, sequer, olhava para a planta. A porta do apartamento se abria apenas para quem vinha entregar pedidos feitos pela senhora.
Ele percebeu que, além de agradecer, ela fazia questão de dar seus bolinhos, seus biscoitos a cada um.
Mesmo que eles dissessem que não queriam, ela insistia e lhes colocava nas mãos as suas preciosidades.
Jerry se deu conta da solidão daquela senhora que não saía de casa, e que fazia questão de agradar as pessoas. Descobriu o que ela queria de verdade: atenção, alguém para conversar.
Foi visitá-la. Disse que para concluir a investigação a respeito do estranho furto, precisava lhe fazer algumas perguntas.
Foi recebido com um sorriso e um delicioso sanduíche, que ela preparou com esmero. Cortado ao meio, dois triângulos perfeitos.
Como minha mãe fazia! – Comentou o rapaz.
As boas mães fazem assim! – Respondeu ela.
Enquanto saboreava a delícia, ele se pôs a olhar para as paredes. Havia muitas fotos dela com o marido, em viagens, festas, recepções.
Ela vivera intensamente um amor e uma vida. Era bela, elegante, sempre com aquele maravilhoso sorriso nos lábios.
Confidenciou-lhe que depois que o marido morrera, colocara o pé no freio. Sem o seu grande amor para tudo compartilhar, a vida perdera muito do seu significado.
Então, o jovem a convidou para sair com ele. E a levou para um lugar paradisíaco, entre palmeiras emoldurando a paisagem, num cair de tarde.
Juntos, assistiram a um pôr de sol, num céu pincelado de lilás, vermelho, amarelo, uma profusão de cores...
A vida não acaba porque o amor partiu, disse ele. Volte a viver, saia de casa, admire os quadros de Deus, permita que sua alma continue a vibrar.
Depois, a levou para conhecer os seus próprios amigos, à beira da praia.
A senhora tornou a desabrochar. Precisava somente de alguém que lhe quisesse bem e lhe desse amor.
Pensemos nisso ao encontrarmos pessoas solitárias, tristes e acabrunhadas.
Contribuamos para que voltem a florescer.
Redação do Momento Espírita, com base
em capítulo da Série Hawaii Five-0.
Em 28.2.2020.
Escute o áudio deste texto