Quando se lê a respeito da vida de alguns artistas, compositores, registramos o quanto investiram na perseverança para alcançarem o sucesso. Ou realizarem o seu intento.
Impressiona em alguns a sabedoria que deflui das suas produções, apesar de não serem possuidores de títulos acadêmicos.
É o caso do paulista João Rubinato, conhecido como compositor, cantor, humorista e ator brasileiro Adoniran Barbosa.
Nascido no início do século XX, ficou conhecido nacionalmente como o Pai do samba paulista.
O que deflui de suas produções é a filosofia do bem viver, uma sabedoria que não se colhe nos livros, mas na vivência cotidiana.
Ele tinha a peculiar capacidade de observar o dia a dia e oferecer histórias. Histórias de vidas amargas, fatos tristes aos quais ele concedia um sabor de esperança ou de humor.
Seu primeiro sucesso como compositor virou canção muito conhecida. É bem possível que todo brasileiro saiba, senão a música inteira, ao menos o estribilho.
Gravada em 1951, pelo autor, lhe rendeu uns minguados trocados pelos direitos autorais. Mas, Trem das onze mostra uma feição muito particular.
Retrata a fala de um rapaz que precisa deixar a amada porque necessita voltar para casa. Ele mora longe e o último trem é o das onze horas.
Evidencia-se, nos versos, a preocupação de uma mãe que não dorme enquanto o filho único não retorne para casa.
Filho, que por sua vez, lhe tem afeição e confessa que tem uma casa para olhar, ou seja, reconhece a sua responsabilidade, o cuidado que deve oferecer a quem lhe concedeu a vida e com ele se preocupa.
Que lição para os dias de hoje quando tantos filhos saem sem dizer aonde vão, sem informarem a que horas haverão de retornar...
Lição de família, em que o respeito e o cuidado devem ser mútuos.
Mas não foi somente a família que enalteceu o compositor.
Continuando a ensinar cantando, em Saudosa maloca, registramos a demolição de uma casa velha para se construir um edifício.
Entende-se que os que ali moravam estavam em propriedade que não lhes pertencia.
Então, assistem, desolados, a casa ser destruída, a mando dos verdadeiros proprietários.
Reagir? Nem pensar, sugerem os versos. Os donos estavam com a razão. Assim, com dor no coração, os moradores assistiram com tristeza a queda de cada uma daquelas tábuas.
Sem descermos a detalhes, se um ou outro estava com a razão, ou quem tinha o direito de ali residir, o que desejamos ressaltar é essa faculdade de se sobrepor à tragédia.
Essa capacidade de recomeçar de novo. Vamos buscar outro lugar, encontrar outro abrigo para nós.
Relembrando os dias felizes vividos na velha casa, a ordem é começar de novo, sem agredir, nem perturbar ninguém.
Tudo isso com a certeza de que Deus velará por eles porque afirma um dos versos: Deus dá o frio conforme o cobertor.
Quanta sabedoria em versos escritos em frases bem populares.
Podemos imaginar a quantos poderá ter servido como alento, em algum momento.
Algo como: se eles puderam superar algo assim, também podemos. Uma verdadeira filosofia de esperança e de não violência.
É de nos indagarmos se esse não é o papel primordial de quem se torna a voz do povo.
Deus abençoe a todos os que assim espalham a paz no mundo.
Redação do Momento Espírita.
Em 26.11.2019.
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