O trem estava por partir. Deixaria aquele lugar sórdido, levando os judeus jovens e sadios para a liberdade.
A notícia era a de preservação dos mais fortes, e naquele trem não havia lugar para velhos.
As portas seguiriam abertas, pois não sobrava espaço para fechá-las. Estava abarrotado de judeus.
Um ancião polonês, de cabelos alvos, segurou com as mãos encarquilhadas o paletó do jovem que estava por partir e suplicou-lhe com veemência, que desse a sua pela vida dele.
Estava velho e doente e desejava rever os familiares que deixara na distante Polônia. Seria sua última chance, implorou ao rapaz.
O velho apelou para o coração do jovem que lhe permitisse embarcar no seu lugar, em nome do Cristo.
O rapaz não era cristão, e pouco ouvira falar do Homem de Nazaré. Apenas uma frase atribuída a Ele pairava em sua memória: Aquele que quiser ganhar a vida, perdê-la-á, e aquele que a perder por amor de Mim, ganhá-la-a.
Olhou longamente para aquele velho desesperado e, embora a promessa de liberdade próxima o tentasse, resolveu descer e ceder seu lugar ao ancião.
O trem partiu e ele pôde contemplar pela janela o aceno de agradecimento daquele a quem salvara a vida com a sua própria, pensava.
Deteve-se ali por alguns instantes, como adorno vivo de uma paisagem de horror e desolação, observando o trem que se afastava lentamente.
Após alguns dias chegou a notícia do engodo. O trem que partira em direção à liberdade, aportara no Campo de Concentração de Auschwitz, na Áustria, e todos os passageiros pereceram sob os chuveiros de gás letal.
Os meses rolaram e levaram com eles o horror da guerra. O jovem sobreviveu para escrever sua história e conhecer melhor Aquele Homem que um dia dissera que aquele que quisesse ganhar a vida perdê-la-ía, e aquele que a perdesse por amor a Ele, ganhá-la-ía.
* * *
Nós, cristãos, que ainda caminhamos pelas estradas do hemisfério físico, saberemos precisar quando sairá o próximo trem?
Será que nosso nome não consta da lista de passageiros com destino ao hemisfério espiritual?
Preocupados em ganhar a vida, em amontoar recursos materiais, esquecemos de cultivar a vida do Espírito, a vida verdadeira e imperecível que nos aguarda no além-túmulo.
Temos empregado a maior parte da vida perdendo-a nos gozos efêmeros e ilusórios, e não temos tempo para dedicá-la, ainda que por alguns instantes, em benefício dos necessitados de toda ordem.
Os dias passam, os anos se somam e pouco, ou quase nada, temos buscado aprender sobre o futuro espiritual que nos aguarda.
Agindo assim, dizemo-nos imortais, mas não vivemos como tal, uma vez que só nos ocupamos com as coisas da matéria, como se daqui jamais fossemos partir.
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Muitas pessoas entram na vida espiritual como suicidas.
Pelas Leis Divinas não são tidos como suicidas somente os que põem fim à vida num ato de desespero ou insanidade, mas também os que acabam com ela aos poucos, através dos excessos de toda ordem.
Assim, os fumantes inveterados, os alcoólatras, os gulosos, os sexólatras, os adeptos da violência, entre outros, são suicidas, por queimarem a existência física por mero egoísmo e desconsideração com a própria vida.
Redação do Momento Espírita, com citação de Mateus, 16:25.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. Fep.
Em 22.04.2009.