Ele era muito jovem e assumira a função de capelão em um grande hospital. Estava quase desesperado para ser útil.
A primeira paciente que ele visitou era uma senhora, que deveria enfrentar uma grande cirurgia na manhã seguinte. Ela estava deitada, tensa, ansiosa.
Ele puxou a cadeira e aproximou-se do leito. Mal se sentara e ela falou: Estou apavorada. Tenho certeza de que morrerei amanhã.
O capelão sentiu um choque. Nada o preparara para aquilo. As palavras lhe morreram na garganta. Ou, como ele mesmo confessou, mais tarde, elas nem surgiram em sua mente.
Tudo era um grande branco.
Para encobrir seu embaraço, ele pegou a mão da paciente e a ficou segurando, entre as suas. Orou.
Talvez Deus o ajudasse a lembrar de tantas coisas que ele lera nos Evangelhos, que ele aprendera nas reuniões preparatórias que o haviam qualificado para a sua tarefa.
Mas, quem começou a falar foi a enferma. Falou de seus medos, da família que deixaria, de como sua partida, naquele momento, poderia influenciar negativamente a vida dos que ficariam.
Falou e falou. Enquanto isso, o capelão orava para que Deus o inspirasse, para que lhe enviasse palavras de conforto para ele dizer àquela mulher.
Afinal, não era essa a sua função?
Ele devia lhe oferecer palavras de esperança, de consolo. No entanto, nada mais fez do que se emocionar, unindo suas lágrimas às dela.
Depois de tudo desabafar e ele simplesmente ouvir, ela adormeceu. Ele saiu do quarto, sentindo-se derrotado.
Era um fracasso. Concluiu que não fora talhado para aquela função. Talvez fosse melhor abandoná-la.
Não conseguiu dormir naquela noite. No dia seguinte, a tormenta prosseguia em sua alma.
Sabia o horário da cirurgia, mas sequer pensou em poder visitar a convalescente. Estava envergonhado demais para isso.
Os dias seguintes o absorveram em outras questões, embora a terrível falha continuasse a lhe falar à memória, lhe afirmando o quanto ele era incapaz.
Para sua surpresa, algumas semanas depois, recebeu um bilhete. Era um bilhete de gratidão pela visita que ele fizera.
Principalmente, escrevia a paciente, pelas palavras maravilhosas que lhe havia dito, oferecendo-lhe conforto e sabedoria. Ela jamais o esqueceria.
E chegou a reproduzir algumas das coisas que dele ouvira.
O capelão ficou atônito. E, depois de reflexionar, concluiu que quando se ora, às vezes, Deus diz sim; às vezes, diz não; e muitas vezes Ele mesmo resolve.
Ou seja, Ele atua diretamente, auxiliando o filho que fala das suas fraquezas e das suas necessidades.
Afinal, quem, senão a Divindade terá dirigido palavras de conforto e esperança àquela mente aflita?
Enquanto o capelão orava, que forças espirituais não terá movimentado em intenção àquela mulher, a quem ele desejava auxiliar?
Não exteriorizou vocábulos, mas ali se manteve, atento, ouvinte, segurando-lhe a mão.
E Deus providenciou para que ela ouvisse, na acústica da alma, as palavras de encorajamento de que necessitava.
Sim, Deus atende sempre a todos os Seus filhos. Através de nós ou servindo-se dos mensageiros celestes, a quem nós na Terra chamamos anjos do bem, anjos de guarda, benfeitores.
Não nos esqueçamos disso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Além das palavras, do livro As bênçãos do meu avô,
de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante.
Em 4.9.2019.
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