Triste o saldo de mutilados que deixou a Primeira Guerra Mundial, que se desenvolveu, quase na totalidade, nas trincheiras, onde os soldados ficavam vulneráveis.
Na Europa, foram calculados em mais de vinte mil. Alguns ferimentos faciais deixavam os homens desfigurados e sem funções básicas, como fechar os olhos ou a boca.
O pai da cirurgia plástica moderna, sir Harold Gilles, nessa época, refinou técnicas no campo da cirurgia plástica reconstrutiva.
No entanto, nem todos tinham acesso a esse recurso. Em muitos soldados, as cicatrizes eram tão terríveis que se isolavam ou conseguiam trabalhos em lugares escuros. A depressão era devastadora.
O escultor Francis Derwent Wood, no Reino Unido, foi o pioneiro no trabalho com máscaras faciais para esconder as cicatrizes e as mutilações. Dizia que seu trabalho começava onde terminava o do cirurgião.
Foi, contudo, uma escultora americana que se destacou na construção das máscaras, não só pela delicadeza de detalhes, mas também por criar um ambiente que ajudava os soldados a se curarem emocionalmente.
Em 1917, Anna Coleman Ladd mudou-se com a família para Toul, França. Tomou conhecimento, em detalhes, do trabalho de Derwent Wood.
Acompanhada de quatro assistentes, ela criou o Estúdio de Máscaras da Cruz Vermelha Americana em Paris.
No seu estúdio, eram oferecidas palestras que preparavam os soldados para o retorno à sociedade. Anna os chamava de valentes sem rosto.
As máscaras eram baseadas em fotografias antigas e longas conversas para entender a peculiaridade, característica e personalidade de cada um.
A máscara, em folha de cobre muito fina, era colocada no rosto do paciente e pintada para que a cor ficasse o mais próximo possível da tonalidade da pele.
A barba, sobrancelhas e os cílios eram de cabelo natural.
Graças a essas máscaras, vários daqueles homens deixaram de viver como reclusos.
Muitos a agradeciam porque agora seus filhos não tinham mais medo deles. Alguns conseguiam namoradas. Sentiam-se confiantes para andar novamente pelas ruas.
Ela foi agraciada com a medalha da Ordem de São Sava, na Sérvia e homenageada como Chevalier da Legião Francesa de Honra, por seu trabalho, que é considerado a origem da Anaplastologia, amplamente utilizada em cirurgia plástica e próteses.
No entanto, as homenagens que mais a tocaram foram as inúmeras cartas recebidas dos soldados a quem não deu somente rostos, mas, principalmente, dignidade e vontade de viver.
Alguns lhe escreviam: Obrigado por me devolver minha casa e minha mãe.
Graças a você, a mulher que eu amo não me considera mais repulsivo.
* * *
Como Anna, muitos heróis e heroínas existiram e existem no mundo.
Quase sempre esquecidos. Por vezes, nem reconhecidos. Entretanto, amplamente recompensados pela gratidão dos beneficiados pelas suas ações.
E pelo Amor de Deus que abençoa amplamente quem ama e se dedica aos Seus filhos, de alguma forma.
De nossa parte, homenageamos essa mulher corajosa e dedicada que devolveu a vida, com seu trabalho, a quase duas centenas de soldados.
Deus a abençoe, onde se encontre.
Redação do Momento Espírita, com base em
dados biográficos de Anna Coleman Ladd.
Em 6.8.2019.
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