Na madrugada, o homem, sequioso de aventuras, chegou ao deserto de Gila, no Novo México.
Estacionou o caminhão e iniciou a caminhada de trinta e dois quilômetros, para se encontrar em um acampamento, com seu grupo de alunos.
O verão era implacável e o sol ardia como fogo. O professor começou a sentir que as botas não eram as ideais para aquele clima. Parou, arejou os pés, colocou outras meias, acelerou o passo, reduziu a marcha. Nada funcionou.
Ao cair da noite, chegou ao acampamento. Os pés estavam uma chaga viva. Eram bolhas e machucados o que viu quando descalçou as botas.
Apesar de tudo nada comentou com ninguém.
Dialogou com os instrutores e com os garotos. A madrugada o surpreendeu em repouso.
Quando a manhã se fez clara, veio o alarme. Um dos garotos sumira.
O professor sentiu o peso da responsabilidade, antevendo as ameaças do deserto cruel que o menino iria enfrentar. Calçou as botas outra vez e teve a impressão de estar andando sobre vidro quente. Tropeçou, arrastou os pés. Tentou pensar em algo para se distrair, esquecer a dor. Tudo em vão.
A dor foi se tornando sempre maior, insuportável.
Finalmente, ele alcançou a trilha que saía de uns arbustos e seguiu direto ao rio que descia das montanhas, através de sombrios desfiladeiros.
Ao ver a água, colocou os pés calçados dentro dela. Esperava alívio mas a sensação foi de milhares de agulhadas perfurando-lhe as bolhas.
Deixou escapar um grito estridente do peito e se jogou na água, por inteiro. A dor aumentou.
Não havia solução. Ele não conseguia mais andar e onde se encontrava, com certeza demoraria dias para ser encontrado.
E o garoto? Era preciso encontrar o garoto.
Uma ideia tomou vulto em seu cérebro e ele começou a implorar, até sua voz ecoar num brado sempre mais alto:
Um cavalo. Por piedade. Preciso de um cavalo.
Depois, como um lamento, colocou toda sua alma na palavra seguinte:
Jesus!
E prosseguiu repetindo:
Jesus. Um cavalo. Jesus.
Era a primeira vez que orava.
Um cavalo apareceu. Era real. Não era alucinação. Ele o montou por toda a noite, até encontrar o garoto.
Cedo, dois vaqueiros procuraram o animal que lhes fugira, não saberiam eles dizer o porquê.
Mas o professor sabia. Sua prece fora ouvida e atendida. Por isso, emocionado, ali mesmo, pronunciou a segunda prece de sua vida: a prece da gratidão.
* * *
Você sabia que a oração deveria fazer parte de nossa vida?
Que orar jamais deveria ser nosso último recurso, mas o primeiro a ser buscado?
E que a prece movimenta profundas forças que concorrem para reverter quadros enfermiços, enquanto alimenta com novo vigor a esperança e restabelece o bom ânimo?
Redação do Momento Espírita, com base no
artigo Minha única prece, publicado na
Revista Seleções Reader´s Digest,
de junho/1998.
Em 4.7.2019.
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