Dizem que o tempo é implacável. Alcança tudo e todos. Os imóveis, os monumentos necessitam de cuidados constantes ou deixam à mostra os resultados do desleixo dos seus responsáveis: a pintura descascada, o mofo, as marcas negras das chuvas.
As próprias árvores, que envelhecem rindo, como escreveu o poeta Olavo Bilac, necessitam da poda prudente, de apoio em suas raízes salientes, a fim de prosseguirem vivas e belas.
Da mesma forma, o ser humano. Os dias avançam, e rapidamente, vão se somando as semanas, meses e anos.
O cabelo embranquece, a saúde fica mais ou menos comprometida, o vigor físico diminui seu ritmo, a memória oscila entre lembranças do ontem e do agora...
Envelhecimento. Todos os que não morremos, nos verdes anos, envelhecemos. E isso é uma dádiva: viver mais anos sobre esta Terra, cujo objetivo é escalar degraus na montanha da evolução.
No entanto, o importante é ter em conta como estamos envelhecendo.
Alguns, ao sermos tocados pelo tempo, murchamos, nos entregamos a uma fase de descanso e amolentamento.
Os anos pesam, afirmamos. A juventude se foi há muito tempo.
Sim, os anos trazem algumas consequências. Contudo, é importante verificarmos que aqueles que admitimos, simplesmente, que estamos velhos, adoecemos, perdemos a alegria de viver e nos permitimos morrer, como quem não pode nada de mais nobre realizar.
Outros, no entanto, prosseguimos vivendo. Recordamos daquela senhora de 91 anos, vivendo sozinha, em seu apartamento, em pleno coração de grande cidade.
Ela faz todo o trabalho da casa. Cozinha e ainda se permite inventar novas receitas, para surpreender quem a visita.
Aliás, quem a deseja visitar, deve telefonar antes para saber a que horas ela estará em casa. E se estará.
Porque essa senhora, que viu os filhos se casarem, constituírem família, o esposo desencarnar, vive todos os dias como se fosse o primeiro. Também o último da sua vida.
Usufrui cada hora. E não deixa de apreciar o belo, a harmonia, o bom. Não perde um concerto da Orquestra Sinfônica.
Fica atenta à pauta de espetáculos da cidade e se permite o êxtase em cada um deles.
Não se detém porque está sozinha. Ela toma o ônibus, até para outra cidade, se for o caso. Não se intimida.
Quando recebe visitas, nada fala que seja desagradável. Não menciona eventuais problemas de saúde, a ida ao médico, os exames a que precisou se submeter.
Absolutamente nada disso. A sua conversação gira em torno do espetáculo de ballet a que foi assistir, de como ficou emocionada com a cena desse ou daquele filme.
Enfim, fala do que leu, do que viu, das belezas da música, da dança, das boas notícias.
Sim, visitá-la é uma aula de rejuvenescimento. Porque ela contagia, com seu entusiasmo, com sua disposição, com sua independência, a quem quer que dela se aproxime.
Velha senhora, diremos. Ela responderá: Ainda tenho anos pela frente e os desejo viver muito bem.
Oxalá, ao alcançarmos as suas décadas, possamos preservar essa lucidez, essa gratidão à vida, essa vontade de viver.
Redação do Momento Espírita.
Em 28.5.2019.
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