Quando somos crianças, olhamos para nossos pais como criaturas especiais, invencíveis.
Eles podem tudo, desde consertar o carrinho quebrado a resolver aquele problema de matemática super difícil para nossas cabeças.
Eles não cansam. Trabalham o dia todo, vêm para casa e ainda têm disposição para verificar se fizemos a lição, se tomamos banho direitinho, se demos comida ao cão.
Jantam conosco, conversam, veem televisão, insistem para que estudemos um pouco mais para a prova do dia seguinte.
Verificam se escovamos bem os dentes, antes de dormir, e fazem oração conosco, antes que o sono nos assalte.
Nunca ficam doentes. Ou melhor, de vez em quando eles têm gripe, um pouco de tosse, dizem que dói o corpo. Mas não é nada.
Logo estão de pé, continuando a rotina.
Quem fica doente mesmo somos nós: febre, dor de garganta, dor de dente, dor de cabeça. Sintomas que sempre os preocupam e os fazem buscar o médico, o hospital.
E providenciam remédio, dieta, cuidados de toda sorte. Ficam acordados à noite e na madrugada para verem se nossa febre diminuiu, se estamos melhorando, se...
Mas os anos vão se somando e um dia nos descobrimos adultos, maduros.
Então, se como pais, assumimos muitas responsabilidades, cuidando de nossos pequenos, vamos nos dando conta, a pouco e pouco, que os nossos pais vão envelhecendo.
É o momento em que nós, os filhos, é que vivemos em sobressalto. Tudo nos preocupa.
Uma simples tosse deles nos impressiona. Será alguma doença grave que irá se apresentar? Será que estão tomando de forma correta os medicamentos?
Tudo, em verdade, assume gravidade aos nossos olhos. O esquecimento de um compromisso é sintoma que nos deixa em alerta.
Será um sinal de Alzheimer?
O passo lento estará a dizer que começam a ter limitações físicas?
E vamos nos esquecendo, nessas nossas preocupações, que eles não precisam viver acelerados porque já fizeram muito.
Não precisam obedecer a horários rígidos. Podem ir dormir mais cedo ou mais tarde ou levantar quando queiram.
Eles podem dar um passeio muito calmo pela praça, sem precisar correr atrás da criançada.
Podem apreciar a paisagem, com calma, dar-se conta da flor que despertou no jardim, sem precisarem se preocupar em saber onde se meteram, afinal, as crianças.
Sim, alguns sintomas são fruto da idade. Ou sinais de eventuais enfermidades que pedem atenção e cuidados.
Mas, de outras e muitas vezes, são somente nossos queridos pais envelhecendo, docemente.
E o que mais precisam é de nosso carinho, não da nossa angústia.
É da nossa naturalidade em deixá-los andar no seu passo, na sua hora.
É entender que, por vezes, não estão com disposição para sair, nos acompanhar ao clube, à temporada de praia.
É acompanhá-los ao cinema, ao teatro. E não levar à conta de sentimentalismo se choram em cenas para nós sem maior importância.
Enfim, importante desfrutar, inteiramente, intensamente, cada minuto ao lado deles, enquanto Deus nos permite tê-los conosco, aqui, na Terra.
Ter em mente que o tempo deles é diferente do nosso. Da mesma forma que para nossos filhos o tempo difere das nossas próprias horas.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 34 e
na Agenda Momento Espírita 2020, ed. FEP.
Em 20.4.2020.
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