O escritor Wallace Leal Rodrigues apresenta em sua obra E, para o resto da vida, grandes tesouros para crianças e adultos.
Num dos capítulos, ele recorda de uma das lições de seu pai:
meu pai era um homem frugal e bom. Ensinou-me, desde muito cedo, a entreter-me com as coisas aparentemente mais simples.
Um dos meus passatempos em criança era colecionar os casulos das traças e assistir, na primavera, à emersão das borboletas, espetáculo - para mim – de arrebatadora beleza.
A luta delas para escapar do cárcere despertava, sempre, minha compaixão.
E um dia, com uma tesoura muito fina, papai veio e cortou a parede sedosa do casulo, ajudando o bichinho a se soltar.
A borboleta, daí a um instante, estava morta.
Era como se o trabalho fosse necessário à garantia de sua vida.
“Filho” – disse papai -, “o esforço com que essa traça procura libertar-se do casulo ajuda-a a segregar os venenos do corpo.
Se o veneno não for expulso, o bichinho morrerá.
O mesmo ocorre com a gente: quando uma pessoa luta por aquilo que deseja torna-se melhor e mais forte.
Mas, quando as coisas se realizam sem esforço, nos tornamos fracos, pusilânimes, sem personalidade. E parece que alguma coisa morre dentro de nós.”
Sei, hoje, que fui mais capaz de sustentar-me na adversidade, graças à lição tão profunda e tão viva que meu pai soube dar-me naquele dia.
E tudo se deveu a uma pequenina traça morta...
* * *
Num mundo onde ainda se busca a vitória fácil, os ganhos materiais sem esforço e o sucesso instantâneo, a lição da traça é deveras importante.
É o esforço em conseguir algo que nos faz grandes.
O valor maior das verdadeiras conquistas não está apenas na conquista em si, mas em todo trabalho, em todo caminho que se percorreu para se chegar lá.
Assim também é a felicidade – uma construção.
Mesmo o sofrimento, tão temido por nós, é uma bênção, pois ele nos amadurece, colore a alma de tons de extrema beleza e nos proporciona crescimento estruturado, sem ameaça ou fragilidade que possibilite pensar na volta.
O trabalho é recurso abençoado que temos para expulsar de nós os venenos do orgulho e do egoísmo, e nos oferecer voo seguro após termos rompido – com nossa própria luta – o casulo de nossa ignorância.
Todo trabalho é sagrado, quando nos coloca como peça útil no meio social onde estamos inseridos, assim, todo trabalho digno é valioso e faz parte desse nosso processo de burilamento espiritual.
A lição da traça é a do trabalho e da resistência.
Quando achamos que as dores da vida, as provas difíceis e as vicissitudes diárias estão exaurindo nossas forças, tenhamos em mente que, em verdade, estão diluindo nossos tóxicos interiores e nos purificando a alma aprendiz.
Cada luta, cada dia resistido com bravura, é uma pequena fenda que se abre no casulo de nossa inferioridade moral, mostrando-nos a luz de dias melhores.
Trabalhemos com dedicação e amor. Resistamos às adversidades, tendo a certeza de que estão nos fazendo mais fortes. Enxerguemos no sofrer um recurso das leis divinas para o nosso amadurecimento como Espírito imortal que somos.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A traça,
do livro E, para o resto da vida, de Wallace Leal V. Rodrigues,
ed. O Clarim.
Em 21.1.2019.
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