De forma habitual, nas grandes cidades, andamos apressados, como se desejando recuperar momentos perdidos.
Os compromissos são muitos, o trânsito nos retém aqui e acolá, roubando-nos segundos que nos farão falta, logo mais.
Ao lado do tempo, que parece disputar conosco a corrida das horas, a preocupação com nosso entorno, é constante.
Nesses tempos de tanta violência, qualquer pessoa estranha que se nos aproxime, nos faz acelerar o coração e o passo.
Por isso, quando aquele homem de quase um metro e noventa, forte, veio na direção do jovem Marcelo, que acabara de sair da empresa, àquela hora da noite, era de se esperar que algo acontecesse.
Chovia, a rua estava quase deserta. E lá veio o homem forte. Aproximou-se e pediu dinheiro para um lanche.
Marcelo não se fez de rogado. Foi com ele para baixo do recuo de um dos prédios e fechou o guarda-chuva. Pediu ao estranho que segurasse sua pasta de documentos e a sacola com agasalhos, enquanto procurava a carteira.
Inesperado. Totalmente inesperado. Marcelo apanhou uma nota e deu para ele. Quem estava mais surpreso nisso tudo era o pedinte. Ficou agradecido e comovido.
Ficou tão feliz que se dispôs a acompanhá-lo, ajudando a carregar seus pertences até o local do ônibus. Na hora de atravessar a rua, pegou o jovem pelo braço, no intuito de auxiliar.
O rapaz não tinha mais do que vinte anos e ele deveria passar dos quarenta. A chuva continuava e, então, Marcelo resolveu entrar com ele em uma casa de lanche.
O homem ficou encantado. Aquele jovem o estava tratando como um igual, com simpatia, com calor humano.
Durante a conversa, ele disse se chamar Jorge. Contou que pertencia à equipe de faxina, encarregada de deixar brilhando um daqueles prédios comerciais.
Deveria trabalhar toda aquela noite. Como o pagamento ainda não saíra, e precisava lanchar, fora pedir ajuda.
Achou que seria difícil pelo fato das ruas estarem quase desertas, por ele ser muito alto, forte.
Algumas pessoas haviam se afastado dele apressadamente ou dado negativas meio tortas. E Jorge falou sobre a esposa, filhos, futebol. Conversaram durante um bom tempo.
Ele estava muito agradecido a Marcelo por não ter demonstrado medo, e até confiado nele, pedindo que segurasse os seus pertences enquanto procurava a carteira. Aquilo era incrível, dizia.
Quando o jovem disse que precisava apanhar o ônibus para casa, Jorge o acompanhou. E, se abraçaram. Jorge agradeceu novamente, elogiou a sua atitude.
Marcelo nunca mais o encontrou. Mas aquela noite ficou marcada na sua vida. Ele jamais esqueceu a alegria e a emoção daquele homem.
Ele estava feliz da vida. Para ele, com certeza, fora algo especial. Para Marcelo, também.
Em verdade, no trajeto para casa, o rapaz sentiu uma alegria indescritível, não tinha como traduzir. Ele fizera o que qualquer ser humano deveria fazer. Fora um simples e despretensioso gesto, mas a gratidão daquele homem ultrapassara qualquer expectativa.
* * *
Tão bom seria se pudéssemos viver sem precisar temer o outro.
Oxalá não esteja longe esse dia, que precisamos construir. Oxalá chegue logo o dia em que possamos conviver sob este céu de anil, de forma fraternal.
Uma convivência tranquila, sem medo, sem preconceito, sem desconfianças...
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
O dia em que fui ao céu, de Marcelo Teixeira, da
Revista Internacional de Espiritismo, de agosto de 2018,
ed. O CLARIM.
Em 20.11.2018.
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