Ele vivia muito bem com a esposa e filhos. Sorria-lhe a vida e se sentia realizado, profissionalmente.
Então, um câncer agressivo se manifestou e começou o seu calvário: cirurgias, tratamentos com quimio e radioterapia. Uma jornada de dores, anseios e sofrimento.
Também um tempo de aprendizado, desenvolvimento de autoconhecimento, paciência e humildade.
Ele sempre sentira um amparo muito forte da Espiritualidade, embora, em momentos mais recentes, lhe faltasse a devida harmonia interior para perceber verdadeiramente esse apoio espiritual.
Em convalescença da nona cirurgia, que lhe retirou um nódulo do pescoço, Fábio estava em casa sozinho. A esposa levara os filhos para brincar no parque, aproveitando o dia de sol e céu claro.
Ele sentiu vontade de tomar o tererê, uma bebida de origem paraguaia, espécie de mate com água gelada. Desde algumas semanas antes da cirurgia, ele tivera que dela se abster.
Dirigiu-se até a cozinha e começou o preparo. Foi aí que verificou que não tinha nenhum limão.
Paciência, disse para si mesmo.
Contudo, se permitiu ficar um pouco mais triste. Afinal, sem limão, o tererê não teria o mesmo sabor.
Passaram-se alguns poucos minutos e ele ouviu duas batidas fracas na porta do apartamento.
Com cuidado, porque ainda estava com pontos, no local da cirurgia, foi atender.
Para sua surpresa, viu o filho de três anos de idade, da vizinha do mesmo andar.
Eu vim trazer este limão para você. - Disse o pequeno.
E, antes que Fábio pudesse entender o que estava acontecendo, a mãe do menino surgiu, pedindo desculpas pelo incômodo.
Não sei o que aconteceu, disse ela. Ele estava assistindo TV, de repente se levantou, pegou um limão na geladeira, abriu a porta do apartamento e saiu em disparada.
Fábio se agachou, pegou o limão, agradeceu, deu um abraço na criança.
Voltou para a cozinha e completou o preparo da sua bebida, com limão. As lágrimas começaram a escorrer dos seus olhos.
Ele estava tão penalizado de si mesmo, tão triste. Como se estivesse só no mundo, ante o quadro de uma longa convalescença.
Mas Deus lhe dera um recado. Estava de olho nele. E se servira de uma criança para lhe dizer isso. Uma criança que viera trazer o que ele precisava para se sentir um pouquinho melhor.
* * *
Deus e a Espiritualidade, com certeza, não se encontram à nossa disposição para nos fazerem favores.
Nem para providenciarem itens de que necessitamos.
Mas todos os dias nos oferecem demonstração de cuidados para nos tranquilizar e nos mostrar que estão conosco.
Coisas pequenas, detalhes miúdos. Entretanto, é próprio da grandeza não esquecer coisas minúsculas, quase insignificantes mas que se fazem de muita importância para nossas vidas.
Conforme as exortações evangélicas, até os fios de cabelo da nossa cabeça estão contados e nenhum deles se perde sem que o Pai o saiba.
Nada nos ocorre sem a ciência divina. Sem a ciência desse Deus que veste a erva do campo, que não tece, nem fia;
Que providencia o alimento para as aves, que não semeiam, nem colhem, nem armazenam em celeiros.
Esse Pai amoroso e bom vela por cada um de nós, os Seus filhos, cada dia, todos os dias.
Não esqueçamos desse detalhe.
Redação do Momento Espírita, com base em
fato ocorrido com Dr. Fábio Renan Durand.
Em 25.9.2018.
Escute o áudio deste texto