Amanhecia e a esperança de um novo dia despontava. O sol brilhava, enchendo de coloridos variados o pequeno jardim.
Ela abriu as janelas, permitindo que o ar da manhã e os raios do astro brilhante enchessem os cômodos da casa.
Tudo parecia cantar alegrias, na sinfonia da passarada e na brisa leve. Tudo, menos o seu coração.
Idosa, depois de uma enfermidade que a debilitara, ela sentia que, dia a dia as forças mais a abandonavam. O corpo pesava, os passos já não eram tão rápidos.
Mais do que tudo, a tristeza que lhe ia na alma falava de dores vividas e dos problemas do agora. De uma forma estranha, assomavam-lhe à memória as dificuldades da infância, da adolescência.
O dinheiro sempre curto, quase faltando. As tantas vontades da infância jamais atendidas porque o supérfluo não podia ser cogitado em seu lar.
As mortes prematuras dos irmãos, dos pais, tudo se somava num corpo de amargura. Por quê? – Indagava-se. Por que tantas lembranças tristes me assaltam, de uns tempos para cá?
As noites eram povoadas de sonhos em que se encontrava com os amados que haviam partido. E tudo lhe parecia um grande preparativo para a sua própria morte.
A morte. Nessas semanas, que iam se somando, esse era o seu pensamento mais constante. Quando partiria? Como aconteceria?
Isso, ela sabia, somente Deus, o Pai tinha ciência. Ninguém mais. A única certeza é de que partiria, algum dia, que acreditava seria breve.
* * *
Muitos dos nossos idosos vivem situação mais ou menos semelhante. Quase sempre, as vivem na intimidade de seus corações, sem falarem desses seus sentimentos.
E isso conduz à depressão, que mais lhes rouba as forças e acelera a partida. Importante que os que estejamos próximos, os observemos.
Longos silêncios, olhares distantes como a tentar vislumbrar os quadros da Espiritualidade para onde logo mais se transferirão, são sinais que nos devem chamar a atenção.
Os sorrisos mais escassos, lágrimas que se apresentam em certos momentos, logo disfarçadas...
Estejamos atentos. Alguns diremos que lhes estamos dando assistência, que lhes providenciamos o lar, a alimentação, o atendimento médico.
Mas, a sua grande problemática se chama, em síntese, saudade.
Eles viram partir seus amores mais amados. Foram-se os pais, filhos, amigos. A vida, que parecia um jardim florido, vai tendo cada dia menos flores.
E, então, nossos idosos, também como flores que desabrocharam há muito tempo, que durante muito tempo espargiram seu perfume e seu colorido, começam a murchar.
Carinho é o que eles pedem. Cuidados médicos mais precisos. Por vezes, um terapeuta a quem eles possam contar, sem medo de ferir, magoar ou preocupar, o que lhes vai na alma.
Desde as mágoas que foram represadas, ao longo dos anos, às preocupações com o logo mais. Ficarão inválidos? Sofrerão enfermidades prolongadas? Quando partirão?
Prestemos atenção a essas flores que perfumaram tanto nossos lares e que agora dobram-se para o solo, como hastes cansadas.
Atendamo-los, hoje, agora. São os amores das nossas vidas: avós, mães, pais, parentes outros que nos acarinharam a infância, os dias de felicidade.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 4.9.2018.
Escute o áudio deste texto