Em um mundo onde a competição toma conta das relações, os modelos são sempre superlativos.
Precisamos ser os mais rápidos, desejamos ser os mais belos, lutamos para ser os mais fortes.
Comparamo-nos o tempo inteiro, e parece que a perfeição está sempre no outro.
No corpo da apresentadora de TV, na grande demonstração de afeto da esposa do vizinho, no extraordinário emprego conseguido pelo ex-colega da Faculdade e assim por diante.
O escritor e educador Rubem Alves vê na comparação um exercício dos olhos:
Vejo-me - estou feliz. Vejo o outro. Vejo-me nos olhos do outro – ele tem mais do que eu. Vendo-me nos olhos dos outros eu me sinto humilhado. Tenho menos. Sou menos.
O autor narra que ele mesmo só descobriu que era pobre quando deixou o interior de Minas Gerais para morar no Rio, e foi parar num colégio de cariocas ricos.
Então, começou a se sentir diferente, falava com sotaque caipira, não pertencia ao mundo elegante dos colegas, e sentiu vergonha de sua pobreza.
Até então, Rubem morava com uma família numa casa velha de pau a pique, emprestada.
Diz ele: Eu sou muito ligado a esse passado, foi um período de grande pobreza, mas eu não sabia que era pobre.
O sentimento da infelicidade nasce da comparação. Foi um momento de grande felicidade, um período sem dor. Só dor de dente, dor de espinho no pé.
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Baseados nisso podemos questionar: Como não se comparar? Como viver sem referência alguma?
Não seria possível, obviamente. A não ser que nos ilhássemos definitivamente – uma solução que traria uma centena de outras consequências negativas.
Como lidar equilibradamente com tudo isso, então?
Uma primeira ideia seria a de cuidar para que a competição não tome conta das relações, sejam elas afetivas, familiares ou profissionais.
Se isso acontecer – e normalmente acontece -, que tal transformar a competição em cooperação?
Como? Percebendo que não estamos nas relações apenas para dar e receber, e sim para cooperar, construir um bem comum.
Ver os outros como companheiros e não como adversários faz uma grande diferença.
Uma segunda resolução seria buscar ver a vida do outro como ela realmente é, e não como julgamos que ela seja.
Estamos num mundo de provas e expiações, onde os embates contra nossas imperfeições, ainda insistentes, são constantes. E essas pelejas não poupam ninguém.
Todos temos conflitos, inseguranças, cometemos equívocos e sofremos as consequências do que plantamos.
As leis maiores do Universo regem a vida de todos igualmente. Não há favorecidos nem esquecidos por Deus.
Ver a perfeição, a felicidade, apenas naquilo que não se tem ou no que os outros têm, é um tipo de comportamento que somente gera insatisfação.
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Na excelente obra de Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, colhemos um esclarecimento especial a respeito do homem de bem.
O homem de bem é aquele que estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las.
Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Você não é perfeito, de
autoria de Elisa Correa, publicado na Revista Vida Simples, de julho de 2008
e no cap. XVII, item 3, do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de
Allan Kardec, ed. FEB.
Em 26.6.2018.
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