Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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Não é raro que, na ânsia de fazer o bem, nos disponhamos a dar coisas, distribuir alimentos.

Não é raro também se ouvir frases de decepção, do tipo: As pessoas nunca estão satisfeitas.

Se ofereço sopa, elas perguntam se não há algo mais. Se distribuo roupas, reclamam da cor e do modelo.

Ou ainda: Acredita que o andarilho falou que não queria o cobertor?

Essas situações nos remetem a uma outra, vivida no século passado, durante a revolução cultural da China.

Fang era uma pessoa compreensiva e receptiva a novas ideias.

Uma das grandes realizações dos Guardas Vermelhos fora a criação de escolas noturnas, cujo objetivo era transmitir aos camponeses as ideias comunistas de Mao.

Todos recebiam cópias do Livro Vermelho.

Fang era analfabeta. Por isso, dois jovens e entusiasmados Guardas Vermelhos decidiram ensiná-la a ler.

Ela nunca chegou a reconhecer palavras isoladas. Mas conseguiu memorizar parágrafos inteiros dos ensinamentos de Mao.

Enquanto lavava a roupa, limpava a casa, costurava ou cozinhava, seus lábios se moviam.

Ela recitava, em silêncio, passagens do Livro Vermelho. Por isso, foi considerada uma aluna-modelo.

Pouco tempo passado, duas jovens da Brigada Vermelha foram visitá-la. Desejavam verificar seus progressos na leitura.

Fang disse que estava ocupada, que elas voltassem depois.

Naquela manhã, o carvão usado se recusava a acender e o pequeno cômodo estava tomado pela fumaça.

As moças se foram mas voltaram logo depois, insistindo que era preciso verificar se a senhora entendera os ensinamentos do Livro Vermelho de Mao.

Tinham de entregar, naquela noite, um relatório ao líder do grupo.

Fang ficou impaciente. Ela pediu que uma das moças assumisse seu lugar na cozinha, que a outra tentasse acender o fogo.

Elas se entreolharam confusas. Então, a camponesa desabafou:

Eu poderia passar todos os dias, por todo o resto da minha vida, decorando os ensinamentos de Mao.

Mas quero saber: quem vai arrumar, limpar e cozinhar?

Quem vai dar banho nos meus sete filhos, costurar as roupas deles, preparar três refeições por dia, todo santo dia?

Quem vai fazer mágica para conseguir cozinhar?

Vocês pensam que as palavras do presidente Mao enchem barriga?

Se vocês vierem aqui todos os dias para me ajudar nas minhas tarefas, eu aprendo o que quer que queiram me ensinar. E muito mais.

As moças foram embora, sem dizer nada. E nunca mais voltaram àquela casa.

*   *   *

Desejando fazer o bem, analise o que, especialmente, as pessoas que você pensa auxiliar, necessitam.

Algumas carecem de pão, outras necessitarão agasalho. Alguém pedirá que você lhe decifre o alfabeto.

Outro mais desejará dinheiro para se locomover a determinado local. Aquele sonha em frequentar bancos escolares.

Pense nisso: o importante não é dar. É dar com sabedoria a cada um aquilo de que carece e anseia.

Dessa forma, o seu benefício alcançará superiores objetivos, suprindo a real necessidade.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2,
do livro
Adeus, China – o último bailarino de Mao,
de Li Cunxin, ed. Fundamento.
Em 27.3.2018.

 

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