A cena é quase trágica: em casa, na cama, uma mulher de setenta e seis anos, no meio de uma sala apertada, cercada por parentes.
Eles a visitam, trazem presentes, desejam ofertar seu gesto de solidariedade.
Misturada a aparelhos hospitalares, com um respirador preso ao rosto, ela parece se despedir de todos.
Em meio a esse panorama, uma visita especial altera profundamente o clima ambiente.
Outra senhora, mais idosa ainda, escala com muita dificuldade os poucos degraus da entrada da residência humilde.
Ela precisa de ajuda para caminhar. Algo que se assemelha a uma filmagem em câmera lenta, pois os poucos passos levam uma eternidade.
Seu objetivo é chegar ao leito da enferma.
As pessoas ficam em silêncio. O momento pede atenção e respeito.
Ouve-se então a voz emocionada da moradora doente: Mãe! Mãe!
Ela não segura a emoção ao ver sua mãe, de noventa e oito anos, caminhando em sua direção. Estavam sem se ver há cerca de um ano, pois ambas não podiam deixar suas casas.
Os próximos segundos são daqueles que só o coração consegue descrever. Quando ela chega finalmente à cama da filha – uma espécie de vitória – elas se abraçam e choram.
Talvez ninguém perceba, mas naquele instante as duas rejuvenescem. São novamente mãe e bebê, mãe e filha menina que precisa de colo, de carinho.
* * *
São muitos os exemplos dessas mães para toda a vida.
Mães que deixam seus rebentos tomarem os barcos e saírem mar adentro, sozinhos, ou com suas novas tripulações, mas que permanecem em terra, como faróis luminosos a guiar os viajores amados durante toda a existência.
Mães que recebem os filhos de volta ao lar, quando suas naus são destroçadas pelas tormentas devassadoras dos dias.
Mães que oferecem abrigo ao coração para que esse tenha tempo de se reconstruir e retornar mais forte ao oceano da vida.
Mães de filhos deficientes que não podem soltar os barcos em absoluto, e que passam a navegar ao lado deles por toda a existência.
Mães que nunca desistem, que nunca deixam de acreditar e que por isso se assemelham tanto ao Criador.
Mães que viram os filhos aparentemente desaparecer no horizonte conhecido, como num adeus, mas que continuam mães de amor, sabendo que chegará o dia do reencontro – apenas num mar diferente.
* * *
A maternidade é a oportunidade de conhecer o amor num grau fabuloso. É a chance de se dar por inteiro sem exigir troca.
É a prova da renúncia completa. É a lição suprema para sermos menos eu e mais nós.
Se você é mãe, essas linhas são para você.
Se você não pôde conhecer a maternidade, não perca a chance de apreciá-la ao seu redor, como um bom ouvinte aprecia o canto de um sabiá, ou como um bom observador se encanta com os raios de sol por entre as árvores num fim de tarde qualquer.
Amor de mãe é obra da natureza. E toda natureza está aí para nos ajudar e para que aprendamos com ela sempre.
A mãe natureza é também mãe para toda a vida.
Redação do Momento Espírita.
Em 26.2.2018.
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