Sofia era uma mulher dinâmica, dividida entre os afazeres da casa, os cuidados com a família e a profissão.
Saía bem cedo, deixava o filho na escola e seguia para a empresa.
Numa manhã fria, quando levava o menino para a escola, viu um grupo de moradores de rua dormindo sob uma marquise.
Aquilo lhe causou um certo mal estar. Ela não queria que seu filho visse aquela cena. Mas ele vira e fez uma pergunta que ela não estava preparada para responder:
Mamãe, por que há pessoas que moram nas ruas? Por que elas não têm casa?
A mãe, com o coração apertado, lembrou de quando, ainda menina, havia feito pergunta semelhante. E a resposta que ouvira não era a que desejava dar ao filho.
Ela havia crescido ouvindo coisas ruins sobre aquelas pessoas. No entanto, sabia que eram pessoas como ela, que haviam feito escolhas equivocadas, ou sofrido traumas dos quais não conseguiram se recuperar. E acabaram nas ruas.
Foi isso que ela tentou explicar ao filho, que olhava para ela muito sério.
Mãe, como podemos ajudar essas pessoas a se recuperarem?
Sofia engoliu seco.
Filho, existem programas e projetos que cuidam disso. Eles recolhem as pessoas em abrigos e cuidam delas.
Mãe, se eles recolhem essas pessoas, por que elas ainda estão nas ruas? Não entendo. Não está funcionando!
E a conversa foi se intensificando e aprofundando, pois o amor que aquele menino sentia não aceitava explicações que não faziam sentido para ele, nem o convenciam de que aquilo fosse normal.
A mãe se viu encurralada e apelou para outra explicação que havia escutado na infância.
Deus protege essas pessoas. Ele cuida delas e ampara. Dá forças, e até inspira pessoas a ajudá-las.
Então, mamãe, Deus quer que a gente ajude também, não é? Por isso Ele nos colocou no caminho delas hoje.
Sofia sentiu-se sem ar. Emudeceu. Parou o carro e começou a chorar. Havia se dado conta de que nada fizera em sua vida para ajudar os que precisavam.
Usava sempre o discurso de que havia pessoas dedicadas a isso. A pergunta do filho rasgara a carapaça que ela usara durante anos para não se envolver.
Mamãe, por que você está chorando?
Porque percebi que pouco fiz para ajudar, meu filho. E Deus quer que eu ajude. Ele conta conosco para fazer a nossa parte.
Eu posso ajudar também?
Você já começou a ajudar, meu anjo. Já começou...
* * *
Depois dessa manhã, algo se transformou em Sofia. Ela buscou grupos de voluntários e instituições que se dedicavam a recolher alimentos, roupas, cobertores para os moradores de rua.
E que igualmente ofertavam oportunidades de emprego e moradia para que deixassem as ruas.
O filho a incentivava e vibrava a cada vez que iam ajudar a fazer entregas e visitar os que estavam reabilitados.
O questionamento de um coração cheio de amor, em sintonia com o amor do Pai, a havia feito se lembrar de que Deus conta conosco para ajudar o nosso próximo.
Ele aguarda que façamos a nossa parte.
Redação do Momento Espírita.
Em 16.2.2018.
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