Os veículos de comunicação se esmeram em apresentar informações dos ídolos atuais. Suas vidas são vasculhadas e seus passos seguidos, fotografados, filmados.
Informam aos fãs, com detalhes, os seus gostos alimentares, desejos mais secretos, intimidades.
É de estranhar, no entanto, que quando algumas das chamadas desgraças terrenas os abatem, eles desaparecem do cenário e nada mais é comentado.
Todavia, quantos deles manifestam sua força, seu valor verdadeiro em meio às dores e enfermidades terríveis que os acometem.
Certa vez, lemos a respeito da batalha ferrenha que empreendeu um jornalista brasileiro que durante trinta anos manteve uma coluna diária em jornal.
A doença foi diagnosticada e os médicos informaram que ele entraria em depressão. É o comportamento padrão, disseram.
Convicto, ele afirmou: Não me deixarei deprimir, nem um minuto. E também não cederei à revolta. Vou à luta.
Amante da vida, viajara pelo mundo e conhecera da selva do Nepal às cidades mais belas e sofisticadas.
Agora, a sua peregrinação ao hospital era pela cura. Aos cinquenta e seis anos e com a cabeça cheia de sonhos, ele imaginava que venceria.
Queria ainda escrever a respeito da sua luta para vencer o fumo e o álcool. Poderia auxiliar pessoas.
O tempo haveria de lhe estabelecer regras rígidas e lhe dizer que seu destino próximo era a morte.
Não tenho medo nenhum, comentou um dia. Pode parecer estranho, mas é assim. Deus tem sido generoso comigo e só me resta agradecer. Gostaria muito de conhecer o meu anjo de guarda. Afinal, ele tem sido um amigão.
Os seus últimos dias foram um calvário. Entubado, por várias vezes, não podia falar.
Bastava que lhe retirassem o tubo e ele falava, sereno. Brincava muito. Por diversas vezes foi desenganado. Mas ressurgia com energia e vigor, surpreendendo médicos e enfermeiras.
Jamais reclamou de coisa alguma. Nele sobrou coragem e dignidade.
Quando uma amiga lhe disse que não conseguia acreditar que ele estivesse tão doente, pois o vira há pouco tempo tão bem, ele sorriu e disse:
Pois é, por fora belo, por dentro como pão bolorento.
Nas horas finais, não podia quase falar. Somente escutava as frases de amor que sua esposa lhe dizia:
Estamos juntos há muitos anos. Vamos continuar outros tantos. Vá agora, amor, liberte-se. Busque a luz. Vá em paz.
Você não desejava conhecer seu anjo de guarda? Chegou a hora.
Ele partiu serenamente. Com esforço, balbuciou: Amorzinho.
Foi sua última palavra.
* * *
A vida nos é dada para grandes coisas e a morte nos surpreende, por vezes, em meio à execução ou planejamento de ousados projetos.
Ela não olha idade, sexo, cor da pele, crença religiosa. Aborda a todos e na hora estabelecida.
Vivermos com sabedoria é nos prepararmos cada dia para viver a eternidade na carne, tanto quanto nos conscientizarmos de que a eternidade poderá ser vivida em outra dimensão, além da esfera física.
Afinal, ninguém morre. Somente troca de roupagem.
Enfrentar a enfermidade, o anúncio da morte, requer coragem, muita fibra que somente a fé em Deus pode fornecer.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
O amorzinho... Merry XMas, da revista
Seleções Reader´s Digest, dezembro de 1998.
Em 31.1.2018.
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