Martin Gouveia, jovem ainda, tinha o hábito de invadir residências descuidadas, levando o que pudesse, sem nunca cair nas mãos das autoridades.
Aquela noite espreitara atentamente uma casa fechada onde parecia não haver ninguém.
Sorrateiramente saltou o muro do pátio, forçou a porta de serviço e entrou na residência.
Passou pela cozinha e seguiu para o interior. Procurou um dos aposentos onde esperava encontrar maiores valores, e empurrou levemente a porta.
Nisso ouviu alguém respirando com dificuldade.
Julgando ser uma pessoa que dormia, ressonando, avançou. Admirado, viu um vulto sobre o leito, e imediatamente levou a mão ao punhal.
Ouviu nesse instante uma voz débil e entrecortada, de um homem que o fixou na penumbra.
O desconhecido estendeu os braços e falou sob forte emoção:
Ah! Graças a Deus! Você escutou meus gemidos, filho? Foram os Espíritos! Você é um enviado dos mensageiros divinos!
Martin, surpreendido, abandonou a arma.
Aproximou-se do velhinho que pôde, agora, distinguir sob a tênue claridade da lua que entrava pela vidraça.
O ancião repetiu maravilhado: Graças a Deus! Meu filho, necessito muito de você. Sou paralítico e sem ninguém.
Não tenho forças para gritar. Há muito tempo não recebo visitas. Você me escutou.
Depois de uma pequena pausa prosseguiu: Traga-me o remédio. Sinto muita falta de ar... Leia alguma coisa que me conforte... para eu não morrer só... Você é um enviado dos Espíritos, eles ouviram as minhas preces.
E porque o enfermo lhe oferecesse um livro, Martin, compadecido, acendeu a luz e se dispôs a ler, emocionado.
Era um exemplar de O evangelho segundo o Espiritismo, ensebado de suor e de lágrimas.
O hóspede imprevisto leu e leu até a madrugada. E, aquilo tudo o fez desistir dos assaltos e furtos.
Dedicou-se a cuidar do velhinho, administrando-lhe a medicação, prestando-lhe assistência e lendo os livros de sua predileção.
Depois de cinco meses, o enfermo morreu em clima de paz, deixando-lhe os bens como herança e a alma renovada pelos exemplos de fé nos Espíritos superiores.
* * *
Uma fé capaz de modificar a própria situação de penúria e atrair um jovem equivocado para o refazimento do caminho.
Fé suficiente para neutralizar a violência atrevida que lhe invadira o lar.
Fé que não vacilou diante do invasor que, certamente, não estava ali por acaso, mas guiado por mãos invisíveis que sabiam o desfecho da História por conhecerem a intimidade de um e de outro.
* * *
No nosso dia a dia, várias situações se apresentam justamente para que possamos ajudar aqueles que conosco convivem, ou, que simplesmente cruzam o nosso caminho.
De igual forma, por vezes, de onde nem sequer cogitamos, nos chega o auxílio, inesperado mas preciso.
Isso porque Deus tem formas inúmeras de atender aos Seus filhos, servindo-se de qualquer criatura, mesmo que nos possa parecer inadequada.
Afinal, Ele, na qualidade de Pai, conhece a intimidade de cada um dos Seus filhos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 62,
do livro Ideal Espírita, por Espíritos diversos, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC.
Em 1º.2.2018.
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