O desânimo lhe pesava aos ombros, como nunca antes.
Embora tentasse ser otimista, buscar o melhor de cada situação, para ela, aqueles dias se mostravam desafiadores.
Dentro do lar encontrava a incompreensão a julgar todas as suas ações.
No trabalho, as exigências desmedidas de um chefe intolerante, a pedir mais e mais.
E as dificuldades financeiras habituais, equilibrando-se no orçamento entre lá e cá das dívidas e compromissos assumidos.
Naquele dia, as aflições pareciam tomar um volume mais intenso, a extravasar-lhe do coração.
Foi assim que encontrou velho amigo, que sempre fora seu conselheiro nas horas mais cruciais.
Reconhecendo-lhe na face as dores que a alma passava, convidou-a para uma conversa fraterna.
Parece que este mundo não é para a felicidade. – Desabafou ela, logo de início.
Será que somos condenados às dores, suplícios, dificuldades? Não temos direito de sermos felizes? – Questionou, com a voz embargada pelas lágrimas que insistiam em inundar seus olhos.
O amigo, profundo conhecedor da natureza humana, falou, com tranquilidade:
Não sei do que você está falando. Vejo você mesma, neste instante, construindo sua felicidade!
Você deve estar brincando, só pode... Não vê meu estado, não percebe o que estou passando?
Mesmo assim insisto, você está construindo sua felicidade. Muitas pessoas chamam de felicidade o sorriso fácil das festas sociais, ou o dinheiro gasto para amealhar bens, ou a quantidade de posses em seu nome.
Essa é uma felicidade que logo se esvai... Logo que o dinheiro mude de mãos, a saúde não permita mais as extravagâncias, e as ilusões se encerrem em um golpe de dor.
Existem, sim, aqueles que trafegam por estradas estreitas, em desafiadoras provas. Porém, toda prova bem entendida, corretamente vivenciada, constrói virtudes em nossa intimidade.
E as virtudes que vamos conquistando serão a fonte permanente da felicidade que poderemos usufruir sem medo, quando se implantarem, em definitivo, em nós.
Hoje você passa pela incompreensão no lar. Mas é lá que você está desenvolvendo a paciência.
No trabalho, enfrenta a intolerância do chefe desmedido. Mas é lá que você se faz aprendiz da humildade e da compreensão.
As dificuldades financeiras que lhe surgem lhe dão o ensejo de ser comedida, paciente, resignada perante a vida.
Nos dias mais atribulados, nas dificuldades mais intensas, estamos realizando os esforços necessários para cultivarmos as virtudes e valores nobres de que ainda não dispomos.
Imaginar que ser feliz é ter dinheiro, comprar tudo que se deseja, ou dar vazão a todas as nossas extravagâncias é tolice de nossa imaturidade emocional.
Para concluir a conversa, ponderou o velho amigo:
Lembre-se de que as dores e dificuldades pelas quais está passando, logo mais deixarão de existir.
Entretanto, as virtudes, insculpidas a duros golpes nestes dias difíceis, acompanharão você para sempre.
Um breve silêncio se fez entre ambos. Ela olhou o amigo, abraçou-o e, aconchegando-se a ele, como alguém que sente ter encontrado um porto seguro, agradeceu.
Estava renovada para prosseguir nas lutas, enfrentando as dificuldades.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita v. 34, ed. FEP.
Em 20.4.2020.
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