Em muitos lugares, grupos de voluntários se dedicam a amenizar o sofrimento de pessoas em situação de rua.
Pessoas que perambulam pelas praças, que dormem debaixo das marquises ou das pontes.
Paulo é membro de um desses grupos, na capital paulistana.
Todas as quartas-feiras, o grupo se reúne à noite e se divide, para a distribuição de kits com refeição, água e cobertor.
Naquela noite, Paulo saiu de casa com a esposa, passou na sede do grupo, abasteceu o porta-malas do carro com os kits e seguiu para o bairro que habitualmente atendia.
Ao chegar, cumprimentou as pessoas que costumavam pernoitar por ali. Um rapaz os olhava com muita desconfiança. Por ser um recém-chegado, desconhecia aquele tipo de atendimento.
Conforme a entrega dos kits foi se desenvolvendo, o jovem foi relaxando, confiando que os voluntários não iriam lhe fazer mal algum.
Aproximou-se, então, e informou que havia uma senhora dormindo sozinha na rua lateral.
O voluntário se dirigiu para lá, anunciando, em voz alta, conforme o procedimento padrão, que estava chegando, com lanche, água e cobertas.
Ao se aproximar, percebeu que a mulher se cobria apenas com um pedaço de plástico roto. A noite era quase gélida.
Ela acordou um pouco assustada, mas nada disse. Apenas acenou com a cabeça sim ou não às perguntas.
Paulo lhe entregou o cobertor e tudo o mais que havia no kit, explicando item por item.
Quando terminou a entrega, sorriu para ela e disse que Jesus a abençoava. Ela abaixou a cabeça e começou a chorar.
Suas lágrimas corriam livres pelas faces e perguntou, com a voz embargada: O senhor é de verdade, seu moço? De carne e osso?
Foi a vez de Paulo sentir as lágrimas correrem pela própria face. Pensou em como aquela senhora devia ter perdido, há muito, o sentido de um carinho, de um afago.
Sim, disse ele. De carne, osso e gordura, brincou. Sou apenas um trabalhador das vastas legiões do Cristo.
Ela esticou a mão e o tocou, como para se certificar de que ele era mesmo real. Sorriu e o abençoou.
Paulo levantou-se, agradeceu e se dirigiu para o carro, extremamente emocionado.
* * *
Minimizar a fome, o frio e a dor dos que vagam sem casa, sem família, é seguir os rumos da fraternidade, como irmãos que somos todos.
É atender aos ditames do Cristo conforme as anotações evangélicas de dar pão a quem tem fome, água a quem padece sede e cobrir a quem tem frio.
* * *
Graças a voluntários amorosos e caridosos, que levam Cristo dentro de si e compartilham seu amor com o próximo, o mundo de muitas pessoas se torna menos frio, menos sombrio, menos solitário.
Quando estivermos em nossas casas, bem alimentados, protegidos da chuva, do vento, do frio intenso, pensemos nesses irmãos que não têm as mesmas condições.
Se não pudermos ajudar com itens para minimizar seu sofrimento, lembremos de elevar ao Pai uma oração por eles, para que tenham força e coragem.
E roguemos para que sejam encontrados por esses anjos de carne e osso que dedicam seu tempo para minimizar as dificuldades de quem perdeu quase tudo na vida.
Quase tudo, menos a esperança...
Redação do Momento Espírita, com base em fato
ocorrido no grupo de voluntários do Núcleo
Assistencial Fraternidade, de São Paulo.
Em 30.10.2017.
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