O que acontece quando nossos amores se vão pela porta escancarada da morte?
Aqueles de nós que guardamos a certeza da vida que não acaba, choramos e oramos. Oramos pelo bem-estar deles. Oramos por nós mesmos, a fim de que as vibrações da prece nos tragam lenitivo à saudade.
Aqueles, no entanto, que não têm o apoio da crença na Imortalidade, sofrem muito mais.
Será que os amores prosseguem vivendo? Se continuam a viver, eles nos veem, nos ouvem, podem se comunicar conosco?
E a dor da incerteza se soma à da saudade, tornando os dias difíceis.
Em março de 2011, parte da costa noroeste do Japão foi devastada por um forte terremoto, seguido de um violento tsunami.
Cerca de dezesseis mil pessoas morreram e duas mil e quinhentas desapareceram.
Entre as vítimas, mais de quatrocentos moradores da pequena cidade de Otsuchi.
Ainda hoje, em meio a ruínas e obras de reconstrução do local, habitantes vivem o luto pela perda de entes queridos.
Pensando em auxiliar esses corações despedaçados, um habitante do lugar, Itaru Sasaki idealizou um poético curativo.
Ele instalou em seu jardim uma cabine telefônica e, desde o terremoto, a deixou à disposição dos moradores.
O jardim é muito lindo, com grama verde e flores coloridas. O telefone, desconectado, ficou conhecido como telefone do vento.
A recomendação é para que a pessoa adentre a cabine, feche os olhos. Fique em silêncio. Ouça com atenção.
Se ouvir o som do vento, de uma onda ou de um passarinho, deve abrir seu coração para que o seu sentimento possa alcançar a pessoa amada que se foi.
O telefone do vento, que não precisa de fios, cabos, ou cartão de conta, funciona por meio da mente.
Assim, faça chuva ou faça sol, todos os dias, pessoas vão usar o telefone para enviar suas mensagens.
Ou simplesmente para tentar aliviar a sua tristeza. Transmitir aquele recado nunca falado. Como aquele filho que assim se expressou:
Oi pai, aqui é o seu filho. Deve ter sido muito duro para você ficar preso em um campo de concentração na Sibéria.
Recentemente, recebi informações do governo japonês sobre a sua morte.
Faz setenta anos que sofro com isso. Minha mãe morreu. Meu irmão mais novo morreu. Mas, meu irmão mais velho e eu estamos bem.
Cuide-se. Estou falando do telefone do vento. Vou telefonar de novo. Tchau.
Itaru Sasaki idealizou uma forma da pessoa se permitir conversar com quem se foi, por vezes, de forma repentina.
As famílias em luto talvez tivessem algo a dizer aos seus entes queridos e não soubessem como.
O telefone do vento objetiva oportunizar a conexão dos sentimentos entre os que ficaram e os que se foram para o Grande Além.
Que bela e romântica maneira de auxiliar uma comunicação que, em essência, pode, simplesmente, ser realizada pelo pensamento.
Diz o senhor Sasaki, em sua sabedoria de mais de sete décadas: Expressar suas emoções é uma coisa difícil de fazer.
Então, as pessoas vêm extravasar seus sentimentos, aquilo que guardam no fundo da alma.
O telefone é somente um instrumento palpável para estimular o que podemos fazer pelo pensamento, em qualquer lugar.
Mas, para muitos, o início do exercício de uma boa comunicação entre dois mundos.
Redação do Momento Espírita, com
base em notícia da g1.globo.com.
Em 23.8.2017.
Escute o áudio deste texto