Quando se lê a História da Humanidade causa-nos espanto a maldade do homem para com seu semelhante.
São relatos de guerras, de conquistas, de muitas vidas destruídas com requintes de crueldade.
Dominadores que, vencendo a luta, se apoderavam dos bens, da família, da vida do vencido.
Muitas vezes, para vangloriar-se ainda mais, alegravam-se em estabelecer torturas físicas e morais ao conquistado.
Revendo fatos de tanta perversidade, nos indagamos como pode o homem ser tão mau? Como pode infligir dor a outro ser, de forma deliberada, até por puro prazer?
Recordando os tristes episódios da escravatura, sobretudo a que retirou da África seus filhos e os espalhou pelas Américas e a Europa, como se fossem coisa alguma, é de pasmar a desumanidade.
Ficamos a pensar como podemos nos dizer cristãos e fazer isso aos nossos irmãos.
Considerá-los menos do que animais, retirar-lhes o direito à liberdade, à sua própria manifestação religiosa, à família, ao idioma pátrio.
De certo modo, algumas tantas coisas parecem perdidas no tempo, superadas pelos anos e pelo progresso das gentes.
Contudo, alguns resquícios permanecem, despontando aqui e ali. E é Mauda, uma mulher de Uganda, quem relata que, ao ser surpreendida grávida, foi colocada em uma canoa, por seu irmão e deixada na desabitada Ilha da Punição.
O objetivo era realmente a morte, para que não envergonhasse seus parentes, desde que a gravidez ocorrera sem que ela estivesse casada.
Durante quatro dias, ela sobreviveu sem alimento.
Mas, como Deus traça linhas em desacordo à vontade do homem, o inesperado ocorreu.
Um pescador chegou à ilha e encontrou a menina de doze anos.
Pobre, sem condições de pagar o dote exigido para uma esposa, ele propôs levá-la para sua casa e torná-la sua mulher.
Desconfiança foi a primeira reação de Mauda. Pensou que ele a desejasse matar, afogando-a.
Entretanto, ele a levou para seu vilarejo. O bebê que ela esperava foi abortado, devido aos maus tratos que havia sofrido da família.
Mauda é considerada a última mulher a ter sido abandonada na ilha, uma vez que a prática morreu com a ascensão do cristianismo em Uganda.
Com James, o marido, Mauda teve seis filhos. Diz que foi amada. E que realmente ele cuidava dela. Afirmava que a resgatara da selva e jamais iria fazê-la sofrer.
Viveram juntos até a morte dele, em 2001.
A lição dessa mulher, cuja idade não se sabe ao certo, girando entre oitenta e cem anos, é surpreendente: Depois que me tornei cristã, perdoei a todos. Até o meu irmão que me levou de canoa até a ilha.
Por isso, passadas décadas, ela se reconciliou com a família.
E, sem temor, diz: Tenho três filhas. Se alguma delas tivesse ficado grávida antes de se casar, não a puniria por isso. Sei que isso pode acontecer com qualquer mulher. E o correto é que os pais a acolham e lhe ofereçam os devidos cuidados.
* * *
Uma história de dor, superação e perdão.
Alguns de nós sofremos e nos rebelamos. Outras pessoas, como Mauda, padecem e em nome do cristianismo que abraçam, tudo superam, e perdoam.
Lembrando a própria dor, não a desejam infligir a ninguém, mantendo a disposição somente de perdão e paz.
Quanto temos ainda a aprender...
Redação do Momento Espírita, com base na
história de Mauda Kyitaragabirwe, encontrável em
http://www.bbc.co…uk.portuguese, em 28.4.2017.
Em 18.8.2017.
Escute o áudio deste texto