Na tarde de primavera, fui passear pelas ruas arborizadas de um bairro nobre.
Inicialmente, a natureza me atraiu o olhar, com suas cores encantadoras, a sinfonia dos pássaros, a suavidade do vento despetalando, de forma caprichosa, as flores.
Não pude me furtar a uma frase espontânea de louvor ao Artista Supremo do Universo.
Depois, o olhar passou a observar as mansões, as casas luxuosas, cada uma com sua característica especial.
E fui me encantando com a criatividade humana que torna cada casa diferente da outra. Quanta imaginação na elaboração das formas, no aproveitamento do espaço, na disposição das portas e janelas, no jardim tão bem ornamentado.
E, de encanto em encanto, fui ensaiando dentro de mim mesmo como gostaria fosse a minha própria casa.
Eu a imaginei bem grande, com muitos cômodos, onde toda a família pudesse se dividir, cada qual em seu canto, quando desejasse ter uma certa privacidade.
Um cantinho só seu, para uma leitura tranquila, para ouvir uma música, para simplesmente fechar os olhos e descansar, ouvindo o silêncio.
Também que tivesse uma sala muito ampla onde todos pudessem se reunir para os momentos de encontros.
Um lugar para ficarmos abraçados, aconchegados, serenando ao compasso do coração.
Uma casa que tivesse uma grande biblioteca, para que todos os meus livros pudessem ficar bem organizados, bem distribuídos, bem arrumados.
E que também tivesse um escritório com mesa para o computador e para dispor os livros, nas horas de pesquisa.
Não poderia faltar uma sacada para que nos finais de tarde pudesse ter a visão à distância da cidade em ebulição, enquanto o sol boceja, preguiçoso, desejando se recolher.
Fui andando pelas ruas. Andando e sonhando. E cheguei em casa.
Uma casa pequena, entre duas outras bem próximas. Abri a porta, entrei. A sala pequena me recebeu.
E fui ao quarto em que se distribuem entre as paredes a cama, a mesa de trabalho, o armário de roupas, os livros empilhados pelo chão, sobre a mesa...
Sentei-me e de repente descobri como amo tudo isso, como tudo está impregnado de mim mesmo.
Os livros amigos que utilizo para a leitura, as consultas e o elucidar das dúvidas.
Os papéis espalhados com anotações, o computador que arquiva tantas coisas da minha vida: fotos, lembranças, artigos, trabalhos.
Tudo tão pequeno, tão justinho. Então, ergui aos céus uma prece de gratidão. Gratidão pela casa que tenho, por essas paredes que me protegem da intempérie, da chuva, dos ventos, do sol.
Agradeci ter tantos livros que se espalham por todos os locais possíveis e impossíveis. Meus tesouros de cultura. Meus amigos de tantos anos.
Agradeci pelo lar que é meu cantinho de céu, com as crianças chegando bulhentas, a família se encontrando para as refeições na minúscula cozinha, todos falando ao mesmo tempo, numa ânsia de contar as novidades do dia.
Esse lar impregnado de vibrações de carinho, de ternura, onde quando um se ausenta, se sente falta. Muita falta.
Agradeci a Deus por tudo isso, pela vida que tenho, por tudo que conquistei com meu trabalho perseverante, pelos dias vividos, pelo que sou.
Os sonhos? Continuarei sonhando, sem no entanto deixar de usufruir toda felicidade que me é possível neste cantinho de chão.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 32, ed. FEP.
Em 26.3.2018.
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