O momento não poderia ter sido mais impróprio. As dificuldades financeiras se somavam aos problemas com a saúde e o desespero quase a dominava, naqueles dias em que a gravidez foi confirmada.
Num segundo, pela sua mente desfilaram as tarefas intermináveis no lar, roubando-lhe as madrugadas, no trato com a enfermidade de sua mãe. Acudiram-lhe ao cérebro, em seguida, as horas exaustivas à mesa profissional, a fim de garantir o pão, o abrigo, o teto.
O cansaço a abraçava de há muito tempo. Sentiu que as lágrimas represadas deslizavam como uma torrente, umedecendo-lhe as faces pálidas.
Um bebê! Pensou nas canseiras das noites mal dormidas que teria que enfrentar, dos gastos com fraldas, leite, medicamentos. Tanta coisa.
Acariciou o ventre que abrigava o serzinho em formação. Uma emoção diferente a envolveu. Decidiu. Teria a criança e a iria receber com amor.
Se Deus a convocara para ser mãe, com certeza, a haveria de auxiliar.
Não foi fácil a gestação e a criança nasceu prematura. Quanta preocupação! Tanto medo de que ela não sobrevivesse.
Os meses se passaram e a menina, loura, de olhos claros, se desenvolveu.
Então, e só então Marina se deu conta do infinito amor do Pai. Brindando-a com a maternidade, conferiu-lhe a oportunidade das mais doces alegrias.
Quando a tristeza lhe nublava o semblante, o bebê parecia adivinhar-lhe as dores, e sorria, estendendo os bracinhos, batendo as pernas, feliz, emitindo sons de contentamento.
Quando a morte adentrou o lar, arrebatando a mãe de Marina, foi a pequenina que lhe preencheu os dias, não permitindo que a saudade imensa lhe atingisse a vontade de viver.
Quando a depressão pretendia lançar seus tentáculos, envolvendo-a, foram os risos da pequerrucha que a trouxeram de retorno à realidade doce das suas carícias, estimulando-a a lutar ainda mais.
Deus lhe mandara aquele tesouro que desperta cantarolando, acordando o sol, que mal se espreguiça no horizonte.
Uma preciosidade que retribui em carinho, beijos e abraços os cuidados e atenção que recebe.
Sentindo as mãozinhas quentes lhe tocando o rosto, e ouvindo-a dizer espontaneamente: Mamãe, eu te amo!, as emoções mais sublimes invadem Marina e lhe falam, na acústica da alma: Deus te envia o Seu amor.
* * *
A criança é sempre portadora de alegrias, na inocência das brincadeiras, na espontaneidade dos seus sentimentos. É bem a mensagem da esperança que não fenece e do amor que se multiplica, inesgotável.
Enquanto houver crianças nos lares, envolvendo de risos os ares, a Humanidade poderá caminhar esperançosa e feliz, pois a criança é o sorriso de Deus materializado na Terra.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 27, ed. FEP.
Em 30.3.2015.
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