Ela é assim. Chega quando se está no auge da alegria, quando os planos são muitos e se espera o jamais alcançado.
Chega e derruba sonhos, destrói prazeres idealizados, consome de dor os que permanecem.
Conta a atriz Helen Hayes a sua inconformação com a morte de sua filha, de apenas dezenove anos de idade, levada por um ataque de poliomielite.
Por quê? – Gritava seu coração. Minha filha era jovem e inocente, por que razão ser levada desta forma, às vésperas de sua estreia na carreira teatral, em nova Iorque?
Ela própria, envolta em luto, abandonou a carreira artística. Como poderia criar beleza nos palcos, se estava morta por dentro?
Passou a recusar compromissos sociais e profissionais, limitando-se a receber as pessoas mais íntimas da família.
Tentou encontrar Deus, na literatura. Leu São Tomás de Aquino, a vida e a obra de Gandhi, a Bíblia.
Tudo, porém, sem êxito algum. Sua filha estava morta e ela só conseguia ver sombras espessas no mundo, na sua vida.
Mas, Deus tem formas estranhas de informar da Sua existência e socorrer Seus filhos.
Então, um tal Isaac Frantz começou a telefonar, diariamente, para sua casa, tentando lhe falar. Helen jamais o atendeu.
Finalmente, como ele não desistisse, ela concordou em recebê-lo em sua casa. Ele chegou, com a esposa.
E foi no início do diálogo que a atriz entendeu o motivo da visita do casal.
A ideia fora do senhor Isaac, inclusive, sem o conhecimento da esposa, que ficara apavorada ao saber do compromisso.
Contudo, comparecera, considerando que o marido tivera tanta dificuldade para marcar aquele encontro.
O que surpreendeu Helen foi a espontaneidade com que a visitante começou a falar do filho, desencarnado, há pouco tempo, vítima de paralisia infantil.
Subitamente, percebeu que ela mesma estava mencionando o nome de sua filha, o que não havia feito desde a sua morte.
E isso, emocionalmente, aliviara o seu coração. Entretanto, o que a escandalizou foi ouvir a visitante lhe dizer que tinha intenção de adotar um órfão de Israel.
A senhora Frantz, delicadamente, lhe disse: A senhora está pensando que esse órfão irá tomar o lugar do meu filho?
Isso jamais poderá acontecer. No entanto, ainda há amor no meu coração e não desejo que esse sentimento se perca por falta de uso.
Não posso morrer, emocionalmente, porque meu filho morreu biologicamente. Não devo amar menos por ter desaparecido fisicamente o afeto do coração. Devo amar ainda mais, porque o meu coração conhece o sofrimento dos que perderam o seu ente querido.
Quando o casal se despediu, concluída a visita, Helen compreendeu porque não encontrara Deus anteriormente.
É que ele, o Deus-amor, não está nas páginas de um livro. Ele reside no coração humano.
Também reconheceu que Deus a ninguém privilegia. Pessoas famosas ou quase anônimas, todas são iguais, perante o Seu amor e a Sua justiça.
* * *
Na hora mais amarga, serão a resignação dinâmica e a busca de Deus que poderão aplacar a dor e estabelecer novas diretrizes para a continuidade da vida.
Afinal, a aurora se faz extraordinária, explodindo em cores, a cada dia. E nos convida a amar, a não permitir que esse sentimento seque em nossa intimidade.
Porque Deus é amor, por amor nos criou e nos sustenta.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Desencarnação de um ente querido, de José Couto Ferraz, da
RevistaPresença Espírita nº 317, de novembro/dezembro 2016,
ed. LEAL.
Em 10.3.2017.
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