Foram quase oitenta anos de espera mas, finalmente, aconteceu.
A alemã Ingeborg Rapoport, de cento e dois anos, recebeu o título de doutorado que lhe fora negado pelos nazistas, pelo fato de ser judia.
Sua tese foi desenvolvida e escrita em 1938, na Universidade de Hamburgo, Alemanha. Suas pesquisas eram relacionadas à difteria, doença que matou milhares de pessoas no século passado.
O orientador da médica à época escreveu uma carta relatando que ele teria aceitado seu trabalho. Todavia, as leis antissemitas do Terceiro Reich proibiam que ela defendesse sua tese.
Depois que tomaram o controle da Alemanha em 1933, os nazistas passaram a expulsar todos os judeus das universidades e escolas, além de proibir que exercessem muitas profissões.
Assim, Ingeborg se refugiou nos Estados Unidos, mas jamais desistiu de seu doutorado.
Aos cem anos de idade, obteve da Universidade a promessa de reconsiderar o caso, desde que ela defendesse a tese. Isso a obrigou a estudar, em poucos meses, os avanços médicos das últimas oito décadas.
Após completar o estágio final de seu estudo e passar em um exame oral, a médica se tornou a pessoa mais idosa a receber o título de PhD., na Alemanha.
Ela foi brilhante e não somente pela idade. Ficamos impressionados com a sua agilidade mental e sem palavras sobre o seu conhecimento, afirmou o reitor da Faculdade de Medicina.
Com seu diploma em mãos, a doutora Ingeborg afirmou: Para mim, pessoalmente, o diploma não significou nada, mas apoiar a grande causa de ficar a par com a História, esse sonho eu queria realizar.
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Quanto vale um sonho?
Um sonho vale todas as lágrimas derramadas para sua conquista.
Vale as noites insones, as tentativas frustradas, os pensamentos desmotivadores.
Vale a presença constante do Isso é impossível, até que o possível se apresente.
Vale o cansaço físico, mental, o gosto amargo da derrota quando, pouco a pouco, a vitória luminífera rompe no horizonte.
A verdade é que o sonho vale a sua grandeza, pois, embora os caminhos para conquistá-lo possam ser tortuosos, toda criação e realização humanas tiveram sua origem num sonho.
O sonho vale a alma dos homens que não desistem, que lutam, se esforçam, acreditam e, tal como a fênix, renasce das cinzas deixadas pela derrota, tornando-os melhores, mais fortes, mais sábios.
Em verdade, a grande conquista não está em realizar todos os ideais e sonhos. Está, sim, em nunca, jamais desistir.
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Por vezes, podemos nos perguntar se vale a pena nutrir objetivos, ideais, perspectivas, quando o percurso se faz árduo, penoso, sofrido.
Valerá a pena continuar sonhando pelo bom, pelo justo, pelo progresso social, moral, intelectual, por algo melhor e grandioso?
A alma sensível do poeta Fernando Pessoa responde: Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Pensemos nisso! Sonhemos!
Redação do Momento Espírita, com base na biografia
de Ingeborg Rapoport e com citação de trecho do poema
Mar português, do livro Mensagem, de Fernando Pessoa,
ed. L&PM Pocket.
Em 22.2.2017.
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