Nascida em Goiás, em 1889, foram noventa e cinco anos de uma vida simples, repleta de memórias e detalhes.
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, em meio às dificuldades para criar os filhos, foi doceira e trabalhadora da roça.
Também foi costureira: costurou palavras, arrematou rimas, entrelaçou versos e estrofes.
Sua obra é um grande legado de luta, resistência e amor à vida.
O primeiro livro da autora, intitulado Poemas dos becos de Goiás e Estórias mais, só foi publicado em 1965, quando ela contava mais de setenta anos.
Ganhou notoriedade em 1980, depois que Carlos Drummond de Andrade exaltou a poética da escritora, em um artigo de jornal.
Sua entrada na literatura, entretanto, não foi capaz de lhe tirar a simplicidade, o amor à sua terra natal e nem mesmo a força para lutar pela emancipação feminina, tão presente e tão delicada em seus escritos.
Aos quatorze anos, decidiu mudar de nome. Almejava uma denominação que representasse a força e a confiança que ela ainda não tinha, mas que desejava alcançar.
E a encontrou: Cora Coralina. E escreveu: Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista.
Creio na solidariedade humana. Creio na superação dos erros e angústias do presente.
Creio nos milagres da ciência e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
* * *
Ao longo dos anos que a vida nos concedeu, das experiências pelas quais passamos, dos valores e princípios que nos constituem a essência, em algum instante já pensamos em mudar de nome?
Não nos referimos aqui ao nome civil através do qual somos reconhecidos na sociedade, mas sim do complemento que damos a ele.
Ao invés de Aquele é Fulano, que briga com todos, que possamos ter Aquele é Fulano, o gentil, que a todos ajuda.
Ao invés de Aquela é Sicrana, a rancorosa, que tenhamos condições de substituir por: Aquela é sicrana, a compreensiva.
De que precisamos para isso?
Em primeiro lugar, de autoconhecimento.
É necessário que façamos uma longa e profunda análise de nosso foro íntimo, dos nossos sentimentos, de nossa consciência.
Em seguida, força de vontade.
Mudanças exigem esforço, determinação, concessões e até mesmo sacrifícios. Mudanças nunca são fáceis.
Todavia, recordemos o Apóstolo Paulo quando nos fala sobre o bom combate, aquele que lutamos contra e a favor de nós mesmos.
Contra, pois entramos em contenda com nossas mazelas morais, a fim de as superarmos. É a luta em oposição ao homem velho.
A favor, visto que ao combatermos nossas más tendências, nos aproximamos da felicidade, da verdade, do bem e da paz. Damos vida, assim, ao homem novo.
* * *
Se nosso Espírito encontra-se chagado de arrependimentos, se acreditamos não haver mais tempo para mudanças, recordemos das palavras do Apóstolo Pedro: O amor cobre uma multidão de pecados.
Pensemos nisso! Façamos isso!
Redação do Momento Espírita, com base na biografia de
Cora Coralina e citação do Poema aos moços, do livro
Vintém de cobre: meias confissões de Aninha, de
Cora Coralina, ed. Global.
Em 20.12.2016.
Escute o áudio deste texto