Albert Schweitzer, que encantou o mundo com sua vida exemplar, demonstrou, dentre tantas coisas, que os ensinos superiores da vida podem e devem ser levados a todas as gentes, em todos os lugares e a qualquer tempo.
Para os nativos de Lambaréné, na África Equatorial francesa, pregava aos domingos.
Dizia ele: Os meus sermões têm de ser muito simples. Tenho de falar de maneira concreta para ser compreendido. Tenho de utilizar exemplos tirados da vida deles.
A respeito do perdão, falava assim: Uma pessoa insulta você. Mas Jesus diz que se deve perdoar, e você fica calado.
Mais tarde, a cabra do vizinho come as bananas do seu almoço. Em vez de puxar discussão, você diz apenas que a culpa é da cabra dele e que é justo que ele lhe dê outras bananas.
Se ele não concordar, você sai em silêncio, pensando que Deus faz as bananas crescerem com tal abundância no seu sítio, que você não tem necessidade de brigar por tão poucas.
Depois, um homem que levou as suas quatro cargas de bananas para vender, só lhe dá o dinheiro correspondente a três, dizendo que foi só isso o que você lhe entregou.
Você tem vontade de dizer que ele é um mentiroso. Mas pensa que há muitas mentiras de que só você sabe e que Deus tem de perdoar, e volta para a sua cabana sem nada dizer.
Quando vai acender o fogo, percebe que alguém levou parte da lenha que você foi buscar ontem no mato. Mais uma vez você força o coração a perdoar e deixa de procurar o ladrão para entregá-lo ao chefe.
À tarde, você vai sair para trabalhar na roça, quando descobre que alguém apanhou a sua boa faca de mato, deixando em lugar dela uma velha, cheia de dentes, que você reconhece.
Você pensa que já perdoou quatro vezes e pode perdoar a quinta. Embora seja um dia com muitas coisas desagradáveis, você se sente feliz.
Por quê? Porque o seu coração está alegre, tendo obedecido a vontade de Jesus.
À noite, você vai pescar. Não encontra o seu facho. Fica furioso e chega à conclusão de que perdoou demais. De novo Jesus, o Senhor, domina o seu coração. Você pede um facho emprestado e desce para o rio.
Chegando lá, não encontra a sua canoa. Alguém foi pescar com ela. Você se esconde, furioso, atrás de uma árvore, com a ideia de tomar todo o peixe do intruso quando ele voltar. E depois entregá-lo ao comandante do distrito.
Mas, enquanto espera, o seu coração repete muitas vezes o que Jesus disse.
Quando o homem volta, você lhe diz que Jesus força você a deixá-lo ir em paz. Não exige nem o peixe. Acredito que ele o dê, espantado com o fato de você não querer brigar.
Você vai para casa, feliz e orgulhoso de ter conseguido perdoar sete vezes. Mas, se nesse mesmo dia Jesus chegasse à sua aldeia e você pensasse que Ele iria elogiá-lo, Ele lhe diria que é preciso perdoar mais sete vezes e mais sete e muitas mais, até que Deus possa perdoar os seus muitos pecados.
Ao fim do sermão, faço-os juntarem as mãos e muito lentamente faço uma breve oração.
Quando me retiro, meu povo se levanta. Retira-se com a palavra de Deus viva.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Albert Schweitzer, o profeta das selvas ensina, da
coluna Revivendo ensinos..., do Jornal Mundo Espírita,
de outubro de 2016.
Em 9.11.2016.
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