Embora estejamos vivendo os anos de um novo milênio, alguns conceitos de séculos passados continuam a vigorar entre nós.
Um deles, muito arraigado, é o de que homem não chora. Apesar do testemunho de algumas celebridades masculinas que afirmam ter chorado, mais de uma vez, ante grandes dificuldades, a maioria dos homens ainda acredita que não deve se permitir chorar.
Chorar denota fragilidade. E o sexo masculino é o sexo forte.
Com aquele pai, recentemente divorciado, não era diferente. Até há poucos meses, ele estava casado e tinha com quem dividir as tarefas domésticas, as contas do mês, as inquietações e tristezas.
Mas, agora, estava sozinho. E com dois filhos.
Naquele dia, ele chegou do trabalho, deu banho nos meninos, enquanto eles riam de puro prazer e jogavam espuma um no outro.
Ouviu as gargalhadas deles, correndo pela casa, em brincadeiras barulhentas. Tendo conseguido acalmá-los um pouco, os levou para a cama.
Cinco minutos de massagem em cada um deles. Depois, o violão e canções folclóricas, diminuindo devagar o ritmo e o volume até ter certeza que eles dormiam.
Ele estava determinado a lhes proporcionar uma vida doméstica, a mais estável e normal possível.
Contudo, estava sendo difícil!
Saiu do quarto, desceu as escadas e foi até a cozinha. Sentou-se numa cadeira, colocou os cotovelos sobre a mesa, as mãos no rosto e desabou a chorar.
Desde que chegara, era a primeira vez que sentava. Tinha cozinhado, servido o jantar, cuidado para que as crianças comessem.
Enquanto lavava a louça, supervisionara a lição de casa do filho que estava na segunda série. Tinha elogiado os desenhos do mais novo e as suas construções com blocos.
Agora, estava ali, sozinho. Sentia o peso da responsabilidade, a solidão. E a preocupação com as contas a pagar. Conseguiria dar conta de tudo?
Ele se sentia como se estivesse no fundo de um mar, indefeso, perdido. O choro se tornou convulsivo e os soluços o sacudiram.
Nessa hora, um par de bracinhos lhe rodeou a cintura e um rostinho o examinou com atenção.
Ele olhou para a carinha simpática do filho de cinco anos. Envergonhou-se por estar chorando.
Desculpe, falou, não sabia que você não estava dormindo. Eu não queria chorar. Desculpe. Estou um pouco triste hoje.
O menino passou a mãozinha no rosto em lágrimas, fazendo carinho, foi se aconchegando no colo do pai, recostou a cabeça em seu peito, os bracinhos rodeando-lhe o pescoço.
Então, com a sabedoria da inocência, falou:
Está tudo bem, papai. Não tem problema chorar. Você é apenas uma pessoa.
* * *
Você é apenas uma pessoa! Uma pessoa que tem sentimentos de dor, solidão, impotência. Que ama e deseja ser amado. Que tem carências.
Pai ou mãe, você não deixa de ser um ser humano, com todas as fraquezas próprias da Humanidade.
É bom que seus filhos saibam que você sente dor, saudade, frustração. Que não é um super-herói ou a mulher maravilha.
Demonstre seus sentimentos e fale a eles a respeito.
Família, em essência, significa amor, dedicação, auxílio mútuo, um ombro amigo para chorar.
Mesmo que seja de uma criança de apenas cinco anos de idade.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Permissão para chorar,
de Hanoch McCarty, do livro Histórias para aquecer o coração dos pais, de
Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jeff Auberye Mark & Chrissy Donnely,
ed. Sextante.
Em 8.8.2016.
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