Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
busca   
no título  |  no texto   
ícone Assim era meu pai

Criatura maravilhosa.

Órfão desde os nove anos, passou a viver com familiares, peregrinando de casa em casa.

Justamente com a tia mais indesejada por todos foi que ele ficou mais tempo.

Muito ligada a questões religiosas, chegando ao fanatismo, obrigou o menino a seguir a doutrina a que se afervorava, mediante ameaças de toda sorte.

O garoto não entendia muito bem como Deus, na qualidade de Pai, podia castigar Seus filhos, da forma que lhe narrava a tia.

Cansado de não ter seu próprio ninho e sentir que vivia em lar alheio, como alguém que criava dificuldades, um belo dia, ele deixou tudo para trás e partiu.

Conheceu de tudo pelos caminhos percorridos. Lutas, frio, fome, mas também aprendeu coisas boas, e muitas profissões.

Adulto, chegou a um recanto do Paraná, onde foi fisgado pelo coração.

Ela era bela e de uma família muito rica, uma verdadeira princesa.

Mas nada o desanimou. Depois de muitos embates com a família, que resistia àquela união de uma pessoa sem raízes com o tesouro que era a filha, ele conseguiu realizar seu intento.

O amor era recíproco. E ela compartilhou pobreza, dificuldades, e muitos filhos, dez ao todo.

Certa feita, através de um amigo, ele recebeu um livro. O título era sugestivo: O céu e o inferno, de autoria de Allan Kardec.

Conceitos da infância retornaram à lembrança. O que conteria aquele livro?

A primeira leitura lhe desvendou um mundo novo, sem preconceitos, sem ameaças.

A partir de então, passou a ver a vida com outros olhos.

Buscou mais leituras afins, e tornou-se um defensor das ideias que apontavam para uma vida plena, neste mundo e depois da morte.

A princípio, aquelas ideias assustaram um pouco a sua princesa. Contudo, a explicação racional fez com que passasse a simpatizar com elas.

Dentro dessa nova filosofia de vida ele educou seus filhos.

Fez questão que todos frequentassem a escola, formando-os para o mundo.

Quando os anos se somaram, começou a pensar no que deveria deixar como legado aos filhos e lhes disse:

Meus filhos, não tenho dinheiro para deixar como herança a vocês.

No entanto, eu desejo lhes deixar a lição da honestidade, do trabalho honrado. Também do estudo continuado e das lições da moral do Cristo.

O saber na mente e o amor do Cristo no coração será minha herança abençoada, para cada um de vocês.

*   *   *

O tempo rolou, os anos se sucederam. Hoje, todos os filhos daquele dedicado pai são adeptos da doutrina que ele legou pelo ensino e pelo exemplo.

Todos eles passaram pelos cursos universitários e pós-graduação, em diversas áreas.

Têm tudo o que ele jamais teve, embora conhecesse mais que a média de pessoas de sua época, pois que era um leitor inveterado.

Hoje, vinte e um netos e os vários bisnetos prosseguem nesse mesmo caminho de estudo e trabalho, dentro das rígidas regras da moral do Cristo.

Criatura maravilhosa esse meu pai! Homem de visão, de decisão. Um semeador de muitas vidas. Um cultor do saber.

Redação do Momento Espírita.
Em 2.8.2016.

 

Escute o áudio deste texto

© Copyright - Momento Espírita - 2024 - Todos os direitos reservados - No ar desde 28/03/1998