Certo dia, uma águia olhou para baixo, do alto do seu ninho, e viu uma coruja.
“Que estranho animal!” - Pensou consigo mesma. “Certamente não se trata de um pássaro.”
Movida pela curiosidade, abriu suas grandes asas e pôs-se a descer voando em círculos.
Ao aproximar-se da coruja, perguntou:
“Quem é você? Como é seu nome?”
“Sou a coruja.” - Respondeu o pobre pássaro, em voz trêmula, tentando se esconder atrás de um galho.
“Como você é ridícula!” - Riu a águia, sempre voando em torno da árvore.
“Só tem olhos e penas! Vamos ver”, acrescentou, pousando num galho, “vamos ver de perto como você é. Deixe-me ouvir sua voz. Se for tão bonita quanto sua cara vou ter que tapar os ouvidos.”
Enquanto isso, a águia tentava, por meio das asas, abrir caminho por entre os galhos para apanhar a coruja.
Porém, um fazendeiro havia colocado, entre os galhos da árvore, diversos ramos cobertos de visgo, e também espalhara visgo nos galhos maiores.
Subitamente, a águia se viu com as asas presas à árvore e, quanto mais lutava para se desvencilhar, mais grudadas ficavam suas penas.
A coruja lhe disse:
“Águia, daqui a pouco o fazendeiro vai chegar, apanhar você e trancá-la numa grande gaiola. Ou talvez a mate para vingar-se pelos cordeiros que comeu.
Você, que passou toda a sua vida no céu, livre de qualquer perigo, tinha alguma necessidade de vir até aqui para caçoar de mim?”
* * *
A fábula nos remete a reflexões em torno de nossa própria forma de ser.
É de nos indagarmos quantas vezes, simplesmente pelo prazer de nos imiscuirmos em questões que não nos dizem respeito, criamos problemas para nós mesmos.
Vejamos, por exemplo, a fofoca. Quando recebemos uma informação e passamos a repeti-la, de boca a ouvido, ou pelas redes sociais, sem nos indagarmos da sua veracidade, podemos criar dificuldades para nós.
A mais simples é de vermos nosso nome mencionado aqui e acolá, com desprezo ou com reservas, pela forma da nossa divulgação.
Afinal, diz-se, que quem de outro fala mal a um amigo, poderá, em breve, igualmente, desse amigo comentar com terceiros.
Consequência mais grave é nos envolvermos em processo que invoque indenização por dano moral daquele de quem passamos adiante acontecimentos, inverídicos ou não.
Ou podemos ser chamados à barra dos tribunais para prestarmos testemunho exatamente do que divulgamos, sem termos sido a fonte original.
Outro exemplo é nos inserirmos em discussões de terceiros, a respeito de assuntos polêmicos e delicados.
Nossos apartes poderão ser tidos como intromissão indevida e poderemos ouvir apontamentos desagradáveis.
Dessa forma, a fim de evitarmos nos emaranharmos, como a águia, ficando prisioneiros das nossas palavras e atitudes, pensemos bem antes de falar e de agir.
Não nos permitamos divulgar apontamentos desairosos sobre quem quer que seja.
O mal não merece divulgação em tempo algum, salvo se for para salvaguardar o bem-estar de pessoas ou instituições.
Meditemos a respeito.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
A águia, do livro Fábulas e lendas, de Leonardo da Vinci,
ed. Salamandra.
Em 4.7.2016.
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