As meninas chegaram felizes na casa da avó, para passar o final de semana, enquanto os pais realizavam breve viagem.
Laís, de cinco anos, e Clara, de três, trouxeram suas mochilas quase explodindo de tantas coisas.
Roupas, travesseiros, mantas coloridas, brinquedos, uma enorme bagagem para tão pouco tempo.
Mas, como elas mesmas disseram: A gente trouxe tudo de que precisa, vó.
A avó não deixou por menos. Estendeu um colchão grande no assoalho da sala, rodeado de sofás, como se fossem paredes de uma casa especial. Ou uma cabana, em plena floresta.
Almofadas e travesseiros macios completaram o ambiente.
Nesse espaço, avó e netas compartilharam momentos agradáveis. Houve leitura de estórias, simulação de piquenique, teatrinho, brincadeiras.
Quem olhasse não saberia dizer de quem era a felicidade maior: da avó que recebia as netas, das netas que visitavam a avó.
Porém, houve um momento que superou a própria guerra de almofadas e travesseiros.
Foi quando a avó começou a relatar fatos da vida da mãe das meninas, da época em que essa tinha mais ou menos a idade delas.
A curiosidade cresceu. As perguntas não cessavam.
Histórias da família, da escola, peraltices, tudo foi sendo objeto de descrição entusiasmada da avó e atenção extrema das duas crianças.
Elas riam ou ficavam sérias, conforme o assunto, encantando-se com uma época que jamais haviam imaginado que sua própria mãe vivera.
Havia brilho nos seus olhares.
Nos dias seguintes, pela filha, a avó soube do sucesso das suas histórias.
As garotas, entusiasmadas, reproduziram, em detalhes, tudo que haviam ouvido. Felizes, como se tivessem descoberto segredos da infância materna, contavam, riam e perguntavam: É verdade, mãe? Você fez isso mesmo?
Para aquela mãe, ter rememorados fatos da sua meninice, foi igualmente algo encantador. Alguns fatos ela nem mais lembrava.
De toda forma, foram emocionantes momentos com suas pequenas, graças à memória carinhosa de uma avó.
* * *
Em tempos em que a imprensa ainda não alcançara o seu auge e a televisão não se tornara a rainha das noites, a família se reunia e as histórias circulavam, do avô ao pai, aos netos, numa extraordinária riqueza oral.
Esses momentos foram se perdendo, com o avanço da tecnologia, que ofereceu outras distrações.
A necessidade de maior dedicação à profissão, ao aprimoramento profissional, cursos, horas extras, tudo foi contribuindo para encurtar esses momentos de aconchego doméstico.
O tempo se tornou escasso.
E tudo isso foi alterando o convívio familiar.
Importante que pensemos em um retorno desse apertar laços familiares.
A aproximação dos membros da família em clima de descontração enriquece a todos.
É no seio da família que acontece a transmissão de valores, costumes e tradições entre as gerações.
Preciso é conversarmos mais, contarmos nossas recordações, lembrarmos nossas brincadeiras, rirmos juntos.
Isso representa uma bênção em nossas vidas. E ouvindo os nossos pais e avós narrando as próprias peripécias, nos haveremos de enriquecer, descobrindo um mundo diferente.
Um mundo que nós, crianças e jovens de hoje, nem suspeitamos que tenha existido.
Redação do Momento Espírita.
Em 2.7.2016.
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