A proposta do programa televisivo era a de encontrar parentes que haviam perdido contato, no decorrer dos anos.
Os depoimentos apresentados eram dos mais diversos, por parte de tantos que, por um motivo ou outro, desconheciam o paradeiro de familiares, em razão dos caminhos trilhados.
Eram histórias de desencontros e separações, de dores que o tempo se encarregara de acalmar mas que, diante da oportunidade do reencontro, retornavam com força e intensidade.
E foi assim que ela contou a história de sua vida.
Estava grávida. Era jovem, sem independência, em condições financeiras precárias, sem nenhum apoio familiar.
Ao dar à luz, seu coração de mãe pensara no futuro da filha.
Com as dores transbordando-lhe a alma, a entregara para adoção.
Conhecera vagamente a família que a adotaria: detinham boas condições financeiras e desejavam, ardentemente, uma criança. Aquela família a haveria de amar, com certeza.
Décadas haviam transcorrido. Agora, ali estava ela frente às câmeras, buscando a filha, falando da dor que ainda trazia na alma.
Seu grande medo, contudo, era o de não ser compreendida por ela, pois a dera em adoção, nos seus primeiros dias de vida.
A história chegou até a filha, contada de boca a orelha, pelos que se comoveram com o fato.
Contudo, ela morava em cidade muito distante. Então, a rede de televisão tomou a iniciativa de ir até à filha, para entrevistá-la.
Mãe de família, cercada pelas duas filhas adolescentes, ela iniciou seu depoimento.
Eu queria agradecer profundamente a essa mulher que é minha mãe.
Sou mãe e posso aquilatar a dor que ela sentiu ao ter que me dar em adoção.
Só um amor muito grande é capaz de fazer isso. Ela abriu mão de criar-me para que eu tivesse uma vida melhor.
Sou só agradecimento à minha mãe biológica.
Ao concluir, lágrimas escorriam por sua face, emocionando as suas filhas também.
Nenhuma palavra de reprovação. Nenhum julgamento, mágoa ou cobrança.
Ela se colocou no lugar da sua mãe biológica e se compadeceu. Entendeu suas dores, seu drama e agradeceu.
Permitiu-se a compaixão.
* * *
A compaixão nasce da empatia que nos permitimos sentir pelo outro, quando nos colocamos em seu lugar, quando buscamos entender aquilo que o levou a tomar determinada atitude, sua situação, possibilidades e limitações.
Nenhum julgamento desnecessário, e quase sempre injusto.
Apenas compaixão pela dor do outro, compreensão das dificuldades e dramas que o envolvem.
Antes de julgarmos, lembremos que muitas pessoas no mundo enfrentam batalhas que nem imaginamos.
Não são poucos os que trafegam pelos caminhos da vida carregando dramas intensos, e dando o seu melhor para bem enfrentar as dificuldades.
O bom samaritano tomou-se de compaixão, e atendeu o homem à beira do caminho.
Façamos o mesmo. Há tantos caídos pelos caminhos, precisando de nossa compaixão, não de nossos julgamentos precipitados.
E, em muitas situações, também necessitando da nossa gratidão.
Redação do Momento Espírita.
Em 21.4.2016.
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