Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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ícone O homem certo

De um modo geral, catalogamos as pessoas pelo seu exterior.

Quem trabalha com voluntários, deve ter se surpreendido, mais de uma vez, com resultados de pessoas que pareciam, a princípio, totalmente inadequadas.

A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross narra uma das suas mais positivas experiências.

Ela fora chamada à casa de um homem para uma consulta. Largado em uma cama, totalmente paralisado, incapaz de falar, era um farrapo humano.

Através de um quadro de fala que utilizava para se comunicar com doentes que não conseguiam se expressar, a doutora soube do seu drama.

Segundo ele, a esposa estava tentando se livrar dele. Há quatro anos o cuidava e agora estava fazendo arranjos para mandá-lo a um hospital.

Ele sabia que tinha poucas semanas de vida. Durante quatro anos, ele vira os seus filhos crescerem e isso lhe dera forças para suportar a doença.

Queria que a doutora pedisse à esposa que aguentasse só mais um pouco. Ele prometia que morreria logo para não continuar a ser uma carga tão pesada para ela.

Indagada, a esposa, em lágrimas, confessou estar procurando um internamento. Ela não suportava mais. Estava no fim da sua força física.

Precisava de um homem forte que pudesse ficar com seu marido das oito da noite às oito da manhã, para que ela pudesse dormir.

Não há como cuidar de um paciente vinte e quatro horas por dia, durante quatro anos, sem exaurir-se.

A doutora Elisabeth pediu que ela tivesse paciência por cinco dias. Nesse período, dispunha-se a encontrar alguém para ajudar.

Era preciso que fosse um voluntário. A família não tinha mais recursos. Nos dias que se seguiram, a psiquiatra começou a procurar o homem ideal.

O tempo foi se esgotando e quem se apresentara era um extremista, conforme apreciação dela.

Ele era cheio de manias. Alimentava-se somente de arroz integral e vegetais crus. Viajava de um lado a outro, à procura de gurus.

Sentava-se todo encolhido. Enfim, nada que o credenciasse. Contudo, ele disse:

Quero fazer esse tipo de trabalho.

A doutora indagou se ele estaria disposto a trabalhar doze horas por dia; a cuidar de um homem que não conseguia falar nem escrever um bilhete.

Dia e noite? Sem remuneração?

Ele aceitou todas as condições.

Pois o voluntário, que parecia tão estranho, fez o melhor trabalho que qualquer outro poderia ter feito.

Durante as semanas que antecederam a morte do paciente, ele lhe preparou refeições especiais, massageou-lhe os pés, leu para ele.

Realmente cuidou dele, com carinho, dedicação. Depois da morte do enfermo, permaneceu na casa por mais duas semanas.

Queria ter certeza de que a família ficaria bem.

*   *   *

Não nos deixemos enganar pelas aparências. Nem façamos juízo precipitado de quem não conhecemos.

Permitamos que a pessoa possa demonstrar os tesouros que guarda na intimidade.

Permitamos-lhe a floração.

Se houver necessidade de uma poda, um pequeno arranjo, sempre poderemos providenciar.

Mas não abafemos as sementes da bondade que desejam florescer e frutificar no coração das criaturas.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. O casulo e a borboleta,
do livro
O túnel e a luz, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. Verus.
Em 22.4.2016.

 

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