Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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ícone Idêntica dor

A primavera começava a desabrochar naqueles dias dos meses de março/abril. Segundo o calendário judaico, mês de Nisan. Ainda fazia frio mas a natureza parecia ardentemente se vestir de flores e cores.

Tudo era promessa de vida, como se Yaweh desejasse brindar os seres humanos com renovados presentes.

Tudo era promessa de alegria... menos em Jerusalém.

O homem que entrara na cidade de forma triunfal, há poucos dias, saudado pelo vozerio de crianças, mulheres, do povo em geral, fora preso.

Do julgamento arbitrário nas mãos de Pilatos passara à noite no flagício. Chicotadas nas pernas. Chicotadas nas costas.

Era uma chaga aberta seu corpo, coroado, ademais, por espinhos recolhidos no monturo.

Alçado na cruz da vergonha, o homem agonizava. Aos seus pés, com o coração em frangalhos, agonizava a dor materna.

Maria olhava o corpo lanhado do filho e se perguntava porque os homens tratavam tão mal a quem fizera tanto bem...

Ela tinha os olhos fundos da noite mal dormida, a face traduzindo a dor moral que a machucava.

Seu filho crucificado entre dois malfeitores. Então, ela viu, ao pé de uma das cruzes laterais, uma mulher.

Também chorava e se lamentava.

É seu filho? Perguntou.

Sim, disse a outra. Sofre muito e está morrendo.

E, porque Jesus acabasse de responder ao ladrão de nome Dimas que ainda naquele dia, ele estaria no paraíso, Maria sossegou a mulher chorosa.

Mulher, se meu filho diz que seu filho estará com Ele, no paraíso, acredite. Meu filho é o Filho do Deus Altíssimo.

Aquela voz, pensou a mãe de Dimas, ela a conhecia. De onde? Onde já escutara aquele timbre tão doce?

E sua memória recuou no tempo, tornando-se a ver em Nazaré. Ela fora à fonte buscar água.

E quando se aproximava, ouviu o comentário de algumas mulheres. Mantivera-se à distância, meio oculta.

É verdade, dizia uma. O filho de Tamar é um ladrão. Furtou a João uma funda.

Tem certeza? Perguntou outra.

E a primeira reafirmou a história, dizendo que João e seu amigo lhe haviam assegurado o furto realizado por Dimas.

Como pode Tamar não se dar conta da maldade do filho?

Então, uma voz doce, argumentou:

Não posso crer que haja tanta maldade no filho de Tamar. Penso que deve se tratar de uma brincadeira entre os meninos, simplesmente.

Uma única voz defendera seu filho. Seu pobre filho.

Tamar recorda que fora para casa e perguntara ao filho a respeito da acusação.

Ele garantira que não era verdade. Agora, homem feito, ele viera a Jerusalém.

Prometera à noiva e para sua mãe que iria comprar uma casa para começarem uma vida nova. Tinha negócios importantes que lhe renderiam muito dinheiro.

E da forma mais cruel, a mãe, que sempre o tivera como homem honesto e trabalhador, o descobrira salteador e condenado à morte.

Mas, a voz meiga que o defendera um dia, tentando sufocar a fofoca, estava ali.

E o filho dela, o Messias, prometera receber seu filho na outra vida.

Tamar enxugou as lágrimas doridas, aproximou-se de Maria e a abraçou, em gratidão.

E ficaram ali, as duas mães. Uma era a mãe do Ser mais perfeito que a Terra já conhecera.

A outra, a desventurada mãe de um homem equivocado.

Mas a dor, a dor em seus corações, era a mesma: a dor da mãe que vê morrer em lenta agonia o filho querido.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita, com base em dados colhidos
na palestra
Maria de Nazaré, proferida pelo médium
 Divaldo Pereira Franco.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 18, ed. FEP.
Em 25.3.2016.

 

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