Bob estava sentado no banheiro, em meio a um mar de chapas de gesso, em plena reforma.
O filho de treze anos entrou e perguntou:
Qualquer dia desses você me leva para jogar golfe?
Bob segurou o não entre os dentes e combinou que, na sexta-feira, após o colégio, ele apanharia o filho e um amigo e iriam ao campo de golfe.
A sexta-feira chegou com uma chuva fina e Bob queria desistir do programa. Pela chuva e pela reforma do banheiro, que não estava concluída.
Mas, na hora marcada trocou a roupa, colocou os tacos na mala do carro e esperou os dois saírem da escola.
Quando seu filho entrou no carro, olhou perplexo para o pai e perguntou por que ele estava com chapéu de golfe.
Ora, disse o pai, não vamos jogar golfe?
Você também vai? Frisou o menino.
Então, Bob entendeu. Ele não tinha sido convidado. Em poucos segundos, passaram pela sua cabeça os treze anos de paternidade.
O nascimento. As fraldas. As mamadeiras. Os deveres do colégio. Os consertos de bicicletas. Idas a jogos. Acampamentos. Sempre juntos, ele e o filho.
Agora, aquilo. Tinha vontade de gritar. Perguntar como é que ele podia fazer aquilo com ele. Eles eram ou não eram uma dupla?
Precisava dizer como estava magoado. Contudo, disfarçou com uma interrogação:
Eu? Jogar? Você sabe que estou cheio de coisas para fazer em casa.
Deixou o filho e o amigo no clube e voltou para casa.
Pelo caminho, ia pensando o que poderia acontecer com seu pequeno.
Quem tiraria a bola da banca de areia para ele? E se caísse um raio? E se ele tivesse hipotermia? Se fosse atropelado por um carrinho?
Dentro de si, uma sensação de que um elo se rompera. A vida nunca mais seria a mesma. Estava sozinho.
Entrou em casa com a cara de um adolescente que se sente rejeitado pela turma. Quando a esposa lhe perguntou por que voltara tão cedo, fez ar de abandonado e lamuriou:
Não fui convidado.
Ela riu. Ele ficou muito ofendido. Depois, deu-se conta de sua imaturidade, e riu também.
Retornou à reforma do banheiro, matutando. A vida é assim mesmo. Ele tinha preparado seu filho para aquele momento, desde que ele nascera.
Não para jogar golfe com ele, mas jogar no mundo sem ele. Com seus próprios tacos. Suas estratégias. Sua confiança.
Lembrou de si próprio. De como seu pai lhe fora descortinando perspectivas novas, a cada ano. Abrindo-lhe espaço para crescer.
Era isso: seu filho estava se transformando num homem.
Algumas horas mais tarde, o filho voltou. Bob continuava imerso na reforma do banheiro, que parecia interminável.
Ouviu os passos dos tênis encharcados, em direção ao banheiro. E as reclamações, desde que ele adentrara o lar.
O campo parecia um lago. O jogo estava horrível. Ele não conseguira acertar nada.
Ainda molhado, olhou para o pai e convidou:
Você pode me levar para jogar um outro dia? Estou precisando de ajuda.
Bob o olhou, cheio de amor e lhe disse: Claro, meu filho, quando você quiser.
Celebrou intimamente e disse a Deus: Obrigado por me deixar fazer parte desse maravilhoso processo de transformação.
* * *
Não há amizade, não há amor que se compare ao amor de um pai pelo seu filho. Nada modifica isso. Nem a idade, nem o tempo, nem a maturidade.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O despertar de Ryan,
de Bob Welch, do livro Histórias para aquecer o coração dos pais,
de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jeff Aubery e Mark & Chrissy Donnelly,
ed. Sextante e pensamento de Henry Ward Beecher.
Em 17.3.2016.
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