A quem é dado ver Deus? Quem terá condições de suportar uma visão de tal magnitude?
Por ser a Essência Divina, por excelência, imaginamos que precisamos galgar muitos degraus na evolução a fim de O poder contemplar.
No entanto, o Evangelista Mateus registrou, em seu Evangelho, o Sermão das Bem-aventuranças que, segundo ele, Jesus teria proferido subindo a um monte.
No versículo oito do capítulo cinco, destacou: Bem-aventurados os puros de coração porque eles verão Deus.
Considerando que, conforme ensinou Jesus à samaritana, no poço de Jacó, Deus é Espírito, essa visão prometida não pode se dar com os limitados olhos materiais.
Não com esses olhos que não nos permitem sequer distinguir as cores que vão além da escala do vermelho ao violeta.
Como então, verão Deus os puros de coração? E quem são eles?
Ora, se Deus está em toda parte, justo é concluirmos que podemos vê-lO, quando abrirmos os olhos da alma para abarcar o nosso entorno.
Ser puro de coração é ter essa visão que descortina paisagens que o comum dos homens não apreende.
Assim, podemos ver Deus na chuva generosa que as nuvens fazem jorrar dos céus e a terra, sedenta, sorve em longos haustos;
no sol radiante que aquece os ninhos, acaricia as pétalas das flores e desperta, com seu calor, as sementes que dormem no seio escuro da terra;
nas estrelas que adornam as noites com seu brilho; nesses pontos de luz que enviam constantes convites ao homem para sua exploração.
Estrelas que encantam, seduzem. Estrelas educandários, lares distantes daqui, outras tantas pousadas e moradas do reino de Deus.
Basta ter olhos de ver. Olhos da alma. E veremos Deus nos cristais das águas límpidas do riacho ou nas gotas de orvalho da manhã que desperta, preguiçosa e lenta.
Deus está em toda parte. Então, O podemos ver nas ondas gigantes que se rebelam no alto mar. Ou naquelas mansas, que morrem na praia, em rendilhado de brancas espumas.
Podemos ver Deus no olhar curioso da criança que acompanha o passo lento do gato na tarde morna; o voo ligeiro da ave, a corrida célere do cão de guarda, atento e preciso.
E encontramos Deus no olhar cansado do idoso. Olhar que já viu guerras e tratados de paz, desgraças e alegrias, belezas e horrores.
Podemos ver Deus nas mãos do maestro que rege a orquestra, que determina os compassos e a entrada de cada instrumento, em harmoniosa sinfonia.
Ver Deus. Sim, podemos. Todos. Basta querer. Basta acionar os olhos de ver.
Olhos que veem o céu se tornar negro, prenunciando tempestade; que veem o sorriso infantil e as lágrimas da saudade sulcando as faces de quem já colheu muitas décadas no jardim da vida.
Olhos que descobrem a dor no coração que chora; que vislumbra a necessidade do afeto em quem se encontra mergulhado em solidão.
Olhos de ver. Pureza de coração. Singeleza das pombas. Inocência das crianças.
Ver Deus. Suprema sabedoria, onisciente e onipresente.
Deus, Pai, Criador. Perfeição absoluta. Em cada átomo presente, em cada partícula a se manifestar.
Abramos nossos olhos. Vejamos com o coração.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 32, ed. FEP.
Em 26.3.2018.
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