Conta-se que, certa vez, um corvo pegou uma noz e levou-a para o topo de um alto campanário, uma torre de sinos.
Segurando-a com as patas, começou a bicá-la para abri-la. Porém, subitamente, a noz rolou para baixo e desapareceu numa fresta do muro.
Percebendo que estava livre do bico do corvo, ela suplicou:
Muro, meu bom muro, pelo amor de Deus, que foi tão bom para você, fazendo-o alto e forte, e enriquecendo-o com esses belos sinos de tão belo som, salve-me, tenha pena de mim!
Meu destino era cair entre os velhos ramos de meu pai, permanecer no rico solo coberto de folhas amarelas. Por favor, não me abandone!
Quando eu estava sendo atacada pelo terrível bico daquele corvo feroz, fiz um voto. Prometi que se Deus me permitisse escapar, eu passaria o resto de minha vida dentro de uma frestinha...
Os sinos, num doce murmúrio, avisaram o campanário que tomasse cuidado porque a noz podia ser perigosa. Afinal, era um corpo estranho em sua intimidade.
Entretanto, o muro decidiu abrigá-la, deixando-a ficar onde havia caído.
O tempo passou e a noz começou a abrir, depois estendeu suas raízes nas frestas da pedra.
Não passou muito tempo, as raízes forçaram caminho por entre os blocos de pedra e surgiram galhos que saíam pela fresta.
Os galhos cresceram, tornaram-se mais fortes e estenderam-se para o alto, acima do topo da torre. As raízes, grossas e enroscadas, começaram a fazer buracos nos muros, empurrando para fora todas as velhas pedras.
O muro percebeu, tarde demais, que a humildade da noz e seu voto de ficar escondida numa fresta não eram sinceros. E arrependeu-se de não ter dado ouvido aos sinos.
A nogueira continuou a crescer e o muro, o pobre muro, desmoronou e ruiu.
* * *
Em nossa vida, por vezes, aparecem algumas sementes que agem exatamente como a noz.
Parecem pequenas e inofensivas. No entanto, produzem grandes estragos.
Falamos da semente da fofoca, que instala a discórdia e pode provocar o desmoronamento de uma amizade.
Se for a semente do mau humor, vai estender as raízes da raiva e os galhos da irritação, que anda de braços dados com a violência.
O ciúme é uma pequena semente que, se alimentada pela desconfiança, irrigada pela insegurança e aquecida pelo orgulho impulsivo, faz desmoronar uma família inteira.
Entretanto, se aceitarmos na intimidade de nossos corações a semente da tolerância, veremos crescer a árvore da harmonia, que fará ruir os muros das separações afetivas.
Se acolhermos a semente do espírito de cooperação com o próximo, esta vai dar vida à frondosa árvore da fraternidade, podendo abrigar em sua sombra, os que caminham sob o sol das necessidades variadas.
Se permitirmos que a seleta semente do amor entre em nosso coração, por uma pequena fresta de boa vontade que seja, ela vai gerar tronco tão forte e galhos tão altos, que tocarão o céu, permitindo que os anjos da concórdia, da união fraterna, da paz, possam descer por seus galhos e, através de cada um de nós, possam servir ao próximo, em nome de Deus.
Há sementes e sementes. Nosso coração é um só. Cabe a cada um de nós selecionar a semente que deseja permitir se torne árvore frondosa.
Pensemos nisso e façamos a correta opção.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A noz
e o campanário, do livro Fábulas, de Leonardo da Vinci,
ed. Melhoramentos.
Em 12.2.2016.
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