Rachel tinha apenas dezesseis anos quando, certa noite, recolheu-se ao leito, no dormitório da escola. Acordou seis meses depois, numa cama de hospital, na cidade de Nova Iorque.
Ela sofrera um forte sangramento intestinal que a fez mergulhar num longo estado de coma.
Era o fim de sua vida como uma pessoa saudável e o início de uma vida como pessoa portadora de doença crônica.
Foi nessa época que Rachel se recorda de ter verdadeiramente conhecido sua mãe.
Até então, lembrava-se dela como a profissional que passava longas horas trabalhando. Rachel a via quando chegava em casa, tarde da noite, para lhe dar banho, ler uma história, dar-lhe um beijo de boa noite.
Era uma figura passageira que tinha um perfume gostoso e tomava conta dela nos finais de semana.
Durante os seis meses de seu coma, seus pais se tomaram de temores.
O prognóstico médico era sombrio. Se saísse do coma, viveria como uma inválida, limitada por uma doença que os médicos não compreendiam, nem controlavam.
Teria que se submeter a uma série de cirurgias importantes. Não deveria viver além dos quarenta anos. Sem chance de retornar aos estudos.
Mas Rachel desejava ser médica. Ali, deitada na cama, ouvindo seu pai lhe dizer tudo isso, ela ficou zangada.
Não importava o que diziam os médicos, ela iria voltar aos estudos, à faculdade. Queria ser médica. Nada a impediria.
Ah, disse o pai, uma coisa a impedirá, sim. Não pagarei os seus estudos.
Foi então que a mãe de Rachel, sem alteração na voz, afirmou:
Eu pago a faculdade. Tenho uma conta no banco há muitos anos. É toda sua, Rachel.
Vinte e quatro horas depois, ela assinou um termo de responsabilidade e retirou a filha do hospital, contra a recomendação médica.
Tomou um pequeno avião e levou Rachel de volta à faculdade.
Nos seis meses seguintes, ficou levando a filha para as salas de aula, muitas vezes empurrando a cadeira de rodas, porque ela não conseguia andar.
Então, quando percebeu que ela poderia cuidar de si mesma, a deixou. Telefonava todos os dias.
Os dois anos seguintes foram de muitas lutas. Rachel não conseguia comer direito e tomava medicamentos fortes para controlar os sintomas.
Mas foi descobrindo uma força que desconhecia. Encontrou uma maneira de viver essa nova vida e seguir em frente.
Concluiu a faculdade e passou a clinicar.
Anos depois, conversando com sua mãe, lhe perguntou porque a deixara sozinha em momento tão difícil. Afinal, ela era a sua única filha.
Eu temia por você. – Disse-lhe a mãe. Mas temia ainda mais pelos seus sonhos. Se eles morressem, essa doença dominaria a sua vida.
A pior morte é permitir que sejam sepultados os próprios sonhos.
* * *
Amparar a vida, por vezes, é algo muito complexo. Há momentos em que o melhor é oferecer a nossa força e a nossa proteção.
No entanto, acreditar numa pessoa num momento em que ela não consegue acreditar em si mesma, tem uma importância toda especial.
Essa nossa crença poderá se tornar o seu barco salva-vidas.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Uma questão de vida ou morte, do livro
As bênçãos do meu avô, de autoria de
Rachel Naomi Remen, ed. Sextante.
Em 9.12.2015.
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