Tudo parece tão distante. Ao mesmo tempo, tão perto. Ontem ainda nos víamos criança, fazendo pirraça toda vez que tínhamos que ir para a casa da avó, aos domingos.
É sempre a mesma coisa. – Reclamávamos. Afinal, lá não havia outras crianças. Eram somente adultos que ficavam um tempo enorme ao redor da mesa do almoço, falando a respeito de coisas tolas, que não nos interessavam.
Tudo era monótono. E nos perguntávamos como nossos pais podiam gostar daquela comida. Todo domingo era a mesma.
Risoto, frango assado, maionese. Qual a graça? Por que não podíamos ir a outros lugares, passear, jogar bola?
Todos diziam que domingo era o dia da família. Durante a semana, o trabalho e a escola envolviam os familiares, de tal forma, que nem se encontravam para as refeições.
Quando um estava chegando, o outro estava saindo. Por isso, diziam, aqueles encontros semanais eram tão importantes.
Lembramos agora, com saudade, daqueles dias em que estávamos juntos, em que o riso corria solto por tudo e por nada.
Mesmo que os pequenos ficássemos emburrados em um canto, podíamos ouvir a conversa descontraída e constante, durante horas.
Sim, porque depois do almoço, ficava-se para esperar o café da tarde: bolo, bolachas, queijo, geleias, pães variados.
Para esse horário, habitualmente, chegavam tios e tias, com a filharada. Então, sim, havia os primos legais com os quais compartilhávamos as brincadeiras e nos faziam esquecer de como as horas, até ali, haviam sido chatas.
Domingos em família.
O tempo rolou. Crescemos, ficamos distantes do lar, alguns anos, para os estudos universitários, pós-graduação, especialização.
Constituímos nossa família, iniciamos a carreira profissional longe das nossas raízes.
Quando começaram a chegar os filhos, lembramos dos domingos da nossa infância.
E uma certa nostalgia, vez ou outra, nos bate à porta do coração.
Almoço em casa dos pais, dos avós, somente em períodos de férias. E, ao chegarmos ali, há tanto a falar, a dizer, a lembrar.
Recordamos da infância e das reclamações. Com certeza, hoje são nossos filhos, sobretudo os adolescentes, que devem achar tudo chato e repetitivo.
Férias deveriam ser mais animadas, com viagens pitorescas! Devem dizer, nos poucos dias que ficamos com a família.
Logo mais, como nós mesmos, eles recordarão desses momentos com saudade. E, como nós, possivelmente, os desejarão reprisar, mesmo que seja, somente, por alguns poucos dias por ano.
* * *
Quase sempre as coisas acontecem assim. Enquanto estamos gozando do convívio dos familiares, não damos o devido valor.
Tudo parece corriqueiro, rotineiro. Contudo, basta que circunstâncias nos distanciem, ou que alguém feche a mala e se bandeie para a pátria espiritual, e a saudade se apresenta.
Então, a vontade de reprisar conversas tolas, brincadeiras inocentes e reuniões tidas antes por fastidiosas, se apresenta.
O que não daríamos por uma dessas reprises!!!
* * *
Pensemos sobre o que temos, agradeçamos as horas familiares de que dispomos. Gozemo-las, intensamente. E coloquemos todas as lembranças no baú do coração para um dia, que poderá ser próximo ou distante, em que já não tenhamos alguns amores ao nosso lado.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 23.11.2015.
Escute o áudio deste texto