Não raro encontramos aqueles que afirmam, categoricamente: Eu não sou feliz!
Tantos são os motivos: frustração, decepção, saudade, medo, angústia, solidão.
Procuram, em alguns momentos, desesperada e inconsequentemente, por uma gota de alegria que possa matar a sede dessa tristeza perene.
Quem sabe um carro novo? Ou uma casa nova? Para a solidão, quem sabe um amor?
Um novo amigo, um curso, uma viagem?
Tentam. E, por vezes, ela aparece. Uma tímida felicidade. Que dura alguns dias. Algumas semanas. Talvez um mês.
Entretanto, aos poucos retornam os antigos hábitos, os velhos receios, a antiga frustração: nem sempre a vida é como sonhamos. E a tristeza volta e no coração faz morada.
Afinal, mais acostumados estamos com sua companhia do que com a da alegria.
Neste cenário, realidade de tantos e que, numa primeira análise, parece desolador, questionamos: É possível ser feliz? É possível encontrar a alegria? Caso positivo, como mantê-la?
* * *
O poeta Khalil Gibran, na voz de O profeta, escreveu:
Vossa alegria é vossa tristeza desmascarada. E o mesmo poço que dá nascimento a vosso riso foi muitas vezes preenchido com vossas lágrimas.
E como poderia não ser assim? Quanto mais profundamente a tristeza cavar suas garras em vosso ser, tanto mais alegria podereis conter.
Não é a lira que acaricia vossas almas a própria madeira que foi entalhada à faca?
Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria.
E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite.
Alguns dentre vós dizeis: A alegria é maior que a tristeza, e outros dizem: Não, a tristeza é maior.
Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis. Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama.
Em verdade, estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria.
* * *
A felicidade é uma decisão, uma escolha e um ato de coragem.
Para encontrá-la, para mantê-la, não necessitamos de nos expurgar de todas as dores, sofrimentos, dificuldades, frustrações, receios.
Pelo contrário, ao invés de lamentá-los, aprendamos com eles. De cada desafio, retiremos a lição que lhe é própria.
Não tenhamos dúvida: da mesma fonte que bebermos nossa tristeza, beberemos também nossa alegria. São a superação, os desafios, as lágrimas, que nos preparam para a felicidade e que nos fazem valorizá-la.
A felicidade que não tarda. Desponta no horizonte para todos, todos nós. Basta que tenhamos fé, em Deus, em nós mesmos. Basta que tenhamos olhos de ver.
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Pensemos nisso. E, se neste instante, uma lágrima rola por nossa face, que possa, no final de seu trajeto, encontrar nossos lábios distendidos em um largo e generoso sorriso... Sorriso de alegria, de felicidade...
Sorriso de esperança.
Redação do Momento Espírita, com base no
cap. A alegria e a tristeza, do livro O profeta,
de Khalil Gibran, ed. L&PM Pocket.
Em 13.11.2015.
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