Meus encontros com Deus, no período do colegial, eram na capela da escola, durante o recreio.
Cresci. E hoje nos reunimos em tantos outros lugares...
* * *
Estamos constantemente em presença da Divindade.
Não há necessidade de estar nesse ou naquele local para encontrá-lO.
O Criador não está mais para uns e menos para outros. Não tem escolhidos.
Da mesma forma, não há uma só de nossas ações que possamos subtrair ao Seu olhar.
Nosso pensamento está em contato com o Seu pensamento e é com razão que se diz que Deus lê o mais profundo do coração.
Para estender Sua solicitude às menores criaturas, Ele não tem necessidade de mergulhar Seu olhar do alto da imensidade, nem de deixar o repouso de Sua glória, pois esse repouso está em toda a parte.
Para serem ouvidas por Ele, nossas preces não necessitam transpor o espaço, nem serem ditas com voz retumbante porque, incessantemente penetrados por Ele, nossos pensamentos nEle repercutem.
Entre Ele e nós a distância foi suprimida: já compreendemos isto e este pensamento, quando a Ele nos dirigimos, aumenta a nossa confiança, porque não podemos dizer que Deus esteja muito longe e seja muito grande para se ocupar de nós.
Deus existe. Não poderíamos duvidar. É infinitamente justo e bom. E Sua essência, Sua solicitude se estende a tudo: também compreendemos isto.
Ninguém está abandonado. Ninguém deixa de receber Seus cuidados de Pai amoroso.
Incessantemente em contato com Ele, podemos orar com a certeza de sermos ouvidos.
Ele não pode querer senão o nosso bem. Por isso, devemos nEle ter confiança: eis o essencial. Para o resto, esperemos que sejamos dignos de compreendê-lO.
Amadureçamos um pouco mais. Deixemos a arrogância derreter através do conhecimento e da humildade diante Dessa Inteligência Suprema.
Espiritualizemo-nos. Sensibilizemo-nos. Apaixonemo-nos pela vida, e veremos que a compreensão de Deus virá naturalmente com os dias.
* * *
Hoje encontrei Deus no sorriso de minha filha.
Porém, o gesto espontâneo e luminoso não foi para mim, foi para um estranho, alguém que ela nunca havia visto antes, sentado à mesa ao lado, com o olhar distante e triste.
Pude ver o Criador nos olhos dela.
Ela acenou, como se quisesse perguntar: “Está tudo bem com você?” Em seguida lhe jogou um beijo, espontaneamente.
Certamente ele não estava bem... E Deus sabia.
No mesmo instante – instante mágico, a Divindade amorosa encontrou na mesa mais próxima um sorriso amigo, uma pequena lamparina para acender na vida daquele filho desanimado – que então sorriu, e também acenou de volta.
Hoje encontrei Deus no sorriso de minha filha... Mas o sorriso não foi para mim, foi para a dor do mundo, que ainda lateja incômoda por aí.
E, sem perceber, aquele sorrir também me fez um pouco mais feliz.
Pensando bem, acho que Ele também sorriu para mim.
E agora sorri para você.
Deus irradia sorrisos.
Redação do Momento Espírita, com base em Haikai (curto poema japonês);
no poema Deus no sorriso de minha filha, de Andrey Cechelero,
e em trecho da Revista Espírita, de Allan Kardec, de maio de 1866,
ed. FEB.
Em 30.10.2015.
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