Conta-se que viveu outrora, na Pérsia, um príncipe muito generoso, que tinha em sua corte um sábio cuja nobre função era orientá-lo em suas decisões, esclarecê-lo em suas dúvidas e corrigi-lo em seus erros e injustiças.
O nome do sábio era Ismail Hassan.
Um dia, muito cedo, o príncipe ordenou que o douto conselheiro viesse à sua presença.
O que teria acontecido?
O príncipe parecia pálido e em sua fisionomia morena havia linhas incertas que demonstravam sua intranquilidade.
Acabo de receber este pequeno cofre, – disse ele – dentro do qual havia apenas este anel de ouro.
Ismail examinou detidamente a joia, virando-a e revirando-a na palma de sua mão.
Depois de refletir durante algum tempo, falou:
Afirmo que este anel é uma das mais antigas e valiosas peças do tesouro persa. Como podeis ver, no rico escudo em forma de tâmara, ele ostenta, em letras bem talhadas, a palavra iazul.
Sim. – Confirmou o príncipe, muito sério. – Já havia notado. O mistério, a meu ver, no entanto, permanece. O que significa, afinal, iazul ?
O sábio ergueu o rosto e explicou:
Iazul é a palavra mais expressiva e eloquente entre todas as que figuram no riquíssimo vocabulário persa.
Tem o dom de nos tornar alegres, quando estamos tristes, e de moderar nossas alegrias, nos momentos de extrema felicidade e ventura.
Singular, muito singular. - Refletiu o soberano.
É realmente de grande poder essa palavra que transforma as alegrias em preocupações, e que consegue aniquilar, ou pelo menos conter, as mágoas e tristezas que pesam em nosso coração.
Mas... Insisto em perguntar: o que significa tal palavra?
Iazul, ó príncipe, dentro da sua espantosa simplicidade, significa apenas: isso passa. Ou: tudo passa.
Quando o homem atravessa períodos de felicidade e de tranquilidade, deve pensar no futuro e ser comedido em suas expansões, sóbrio em suas atividades.
Convém que o afortunado não esqueça: iazul – isso passa – a roda do destino é incerta e a vida cheia de mudanças.
Por outro lado, há ocasiões em que nos sentimos anavalhados pelos sofrimentos, pelas enfermidades, feridos pelas desgraças, pelos golpes imprevistos do infortúnio.
Para que o ânimo volte ao nosso espírito, proferimos cheios de fé, fortalecidos de esperanças: iazul.
Sim, tudo passa. Virão dias melhores, dias calmos e felizes.
A prosperidade voltará a iluminar a nossa jornada. A saúde será reconquistada e a serenidade procurará pouso em nosso atribulado coração.
O príncipe tomou o anel em suas mãos, e examinando-o serenamente, concluiu:
No meio de estonteantes triunfos, ou sob o guante da desgraça, em todos os momentos culminantes de minha vida, jamais esquecerei tal ensinamento: isso passa.
* * *
Esqueça por um momento as suas tristezas e aflitivas preocupações.
Livre-se dessa angústia que invade sua alma pelas incertezas da vida.
Lembre-se da palavra gravada no misterioso anel: iazul.
Persista, prossiga, confie sempre. Tudo passa.
Redação do Momento Espírita, com base no livro
Contos e lendas orientais, de Malba Tahan,
ed. Nova Fronteira.
Em 1.10.2015.
Escute o áudio deste texto