Trazia-lhe conforto caminhar sem rumo. Todos os dias, o costumeiro hábito se repetia: saía muito cedo, próximo das seis da manhã. Não havia destino, não havia pressa.
Vez ou outra parava em alguma praça, se sentava. Observava os pássaros, as árvores. Afagava os cachorros de rua. E tornava a caminhar.
Era assim, desde que morrera sua netinha, há quase três anos. A alegria se fora de seu coração, de sua alma e de seus dias.
Por isso, ele caminhava sem rumo. Como sem rumo estava o seu Espírito. Em suas caminhadas pensava em tudo. Pensava na família, na saudade, em sua solidão, em sua dor. Só não pensava em Deus. Havia perdido a fé, dizia.
* * *
Naquele dia, depois do culto religioso a que fora levado por seus pais, o menino chegou a sua casa decidido: Vou encontrar Deus!
O líder da fé religiosa dissera: Deus está em toda parte. Basta que o busquemos de todo o coração. Assim, o garoto pedira permissão aos pais e fora fazer uma caminhada pela vizinhança, a fim de, quem sabe, encontrar o Criador.
Não se esqueça de levar alguns pastéis, bolo e suco, caso lhe der fome, disse-lhe a mãe.
O menino preparou o lanche em uma mochila e saiu para sua missão.
* * *
Depois de uma longa caminhada, o idoso estava cansado e faminto. Sentou-se num banco de praça.
Não demorou muito apareceu o menino, aparentando a idade que teria sua netinha, se ainda estivesse ao seu lado. Boa tarde, disse.
O idoso respondeu, meio sem jeito. Habituado à sua solidão, deixara de ser sociável.
O rapazinho desatou a falar. Contou sobre sua escola, sua família, suas travessuras, sonhos, projetos, seu desejo de encontrar Deus.
Falou, falou... E, como há muitos anos não acontecia, o velhinho sorriu e até mesmo gargalhou com as peripécias contadas pelo garoto.
Para surpresa daquele homem sofrido, depois de muito falar, o jovem retirou de sua mochila saborosos pastéis, bolo, suco, balas e chocolate. E ambos fizeram um delicioso piquenique.
A tarde chegava ao fim e o menino precisava ir embora. O idoso distendeu a mão para cumprimentá-lo e agradecer pela conversa agradável e pelo lanche delicioso.
Foi quando, ternamente, o menino aproximou-se dele e o estreitou em um longo e demorado abraço.
Grossas lágrimas rolaram pela face marcada pelos anos, pela experiência e pela tristeza, sem que sobre isso ele tivesse controle.
Quando retornou ao lar, a mãe questionou o menino: E então, filho? Encontrou Deus?
Sim, mamãe, e ele comeu alguns pastéis comigo!
E o idoso, questionado por seu filho pela demora inabitual para retornar ao lar, somente pôde responder e o fez sorrindo, como há muito não fazia:
Pois é: demorei. Estava no parque, reencontrando-me com Deus.
* * *
Um sorriso, um olhar, uma palavra amiga, pequenos gestos de carinho e doçura transformam vidas, mudam trajetórias, realizam sonhos.
Temos a capacidade para mudar o mundo. O nosso mundo. O mundo do próximo.
A receita é simples: boa vontade.
Pensemos nisso! Façamos isso!
Redação do Momento Espírita.
Em 16.9.2015.
Escute o áudio deste texto