Contou-me uma amiga a experiência vivenciada recentemente.
Disse que houvera ido a São Paulo visitar a mãe doente e narrou:
Quando me sentei na poltrona do ônibus, retornando, pensando nas tantas horas de viagem pela frente, fiquei desanimada.
Pensei que, no dia seguinte, pela manhã, cansada, teria extensa agenda para cumprir até às dezenove horas.
Decidi dormir. Tentei fechar meus olhos, e disse para mim mesma: “Descansa”.
Não consegui. Olhei à minha frente, e vi o trânsito caótico, as lanternas vermelhas, os piscas acesos.
Ultrapassagens perigosas, buzinas enlouquecidas, todos desesperados para chegar em casa.
Jovens fazendo malabarismos, arriscando suas vidas por alguns trocados.
Pensei comigo mesma: “Isto é São Paulo, a cidade onde todos correm, onde vivem e amam.”
Fechei novamente os olhos, e mais uma vez tentei descansar, sem conseguir.
Então, a memória foi reprisando cenas recentes: vi aquele sorriso envelhecido, que a vida sofrida deixou marcado com suas rugas.
Aquele sorriso lindo e, junto com o sorriso, aquele abraço apertado.
Abraço apertado, acompanhado da frase:
“Você? É você, minha caçulinha? Você veio me ver?”
Nesse momento, esqueci todo o cansaço.
Diante do seu sorriso, do seu abraço e das suas palavras, percebi que o mal de Alzheimer ainda não afetou a parte do registro em que eu existo.
Sinto que a luta com os remédios e o nosso carinho continua dando resultado.
Esqueci todo o meu cansaço e percebi que, se fosse para fazer tudo de novo, faria mil vezes, e mais mil vezes, igual, igualzinho.
Enfrentaria horas de ônibus mil vezes, só para ver minha mãe sorrir, e para lhe responder: “Sim, mamãe, sou eu, a sua caçulinha.”
* * *
O amor, sendo o sentimento por excelência, faz sua morada no eu imortal.
É espiritual, por isso mesmo, imperecível.
O amor que une almas afins não mede sacrifícios, não se deixa turvar pelos desafios da vida física.
O amor filial, revestido de carinho, atenção, dedicação, faz o coração materno bater mais forte.
Pode fazer lembranças queridas desabrocharem, e perfumar almas saudosas, sequiosas de um toque, de uma palavra, de um gesto.
O amor materno, tido como o mais puro e sagrado amor concebido na Terra, merece toda nossa gratidão, nossa reverência, nossos sacrifícios.
Amar, verdadeiramente, é ventura vivenciada por corações que sabem planar além das amarras materiais.
Corresponder ao amor que nos é dedicado, é vibrar na mesma faixa de intenções.
É sintonizar na mesma onda vibratória.
Quando as almas sintonizam, os corações batem uníssonos, nem os Alzheimers da vida impedem que se reconheçam.
* * *
Amor, essência Divina.
Perfume dos corações, neste mundo de ilusões, haverá quem o defina?
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 29, ed. FEP.
Em 21.3.2016.
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