Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... Se é verdade
Tanto horror perante os céus?
Ó mar, por que não apagas
Co´a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
* * *
Os navios negreiros de Castro Alves ainda navegam pelos oceanos da Terra.
São refugiados vindos de países em guerra. São imigrantes que viajam em condições sub-humanas para tentarem uma vida em um novo Continente. E naufragam na escuridão gelada de mares que desconhecem.
São famílias inteiras seduzidas pela oferta de novas oportunidades, sujeitando-se ao trabalho escravo, muito longe de casa.
O choro do poeta nunca esteve tão vivo em nossas almas:
Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... Se é verdade. Tanto horror perante os céus!
Vivemos uma época de contrastes. Nossas feridas morais nunca estiveram tão expostas, nunca incomodaram tanto.
Muitos não nos vemos como irmãos na Humanidade. Muitos não entendemos que os mais fortes devem cuidar dos mais fracos.
A ideia de amor ao próximo ainda é compreendida como o amor àqueles que nos são caros, aos nossos, aos do mesmo clã.
Esses estão vivendo sua última chance na Terra. Se não se encaixarem na nova proposta de um planeta de solidariedade, de doação, de regeneração, serão realmente varridos pelo tufão poderoso das Leis Divinas.
O planeta precisa passar de ano, utilizando uma terminologia muito conhecida dos escolares. As pessoas precisam passar de ano.
Aqueles que, depois de inúmeras tentativas, de inúmeras recuperações, mesmo assim se negarem a aprender, a crescer, precisarão mudar de turma ou ainda, mudar de escola.
É com a Lei do Amor que o Criador está, aos poucos, varrendo desses mares a crueldade, o ódio, a indiferença.
É com a Lei do Amor que Ele abraça os desgraçados, diariamente, dizendo-lhes que são bem-aventurados por sofrerem bem, isto é, aprendendo as lições necessárias e expurgando de suas almas débitos de um outro passado.
É através da Lei do Amor que o Criador está modificando cada um de nós, para que quando nos defrontemos com situações graves como essas na sociedade, não fiquemos calados nem imóveis. Que saibamos o que fazer de imediato.
É por causa da Lei do Amor que estamos utilizando mais o verbo compartilhar, dividindo conhecimento, envolvendo-nos com a dor do outro, pensando mais no coletivo e menos no individual.
o Deus dos desgraçados está atuante no mundo como sempre esteve, como Pai amoroso, como Pai que deseja ensinar, dando livre-arbítrio aos filhos para definirem seus caminhos, e mostrando-lhes os efeitos de cada escolha.
Cada escolher tem sua consequência. Cada ação ou omissão nos leva a uma série de acontecimentos, de experiências, de reações do Universo.
* * *
Tanto horror perante os céus ainda é verdade... Com tom de loucura, pela insistência do homem em seguir os mesmos caminhos pedregosos.
Mas, também é verdade que os tempos estão mudando. O amor começa a varrer as planícies, os planaltos, as montanhas e os mares.
Enfim, nos resta uma importante pergunta a ser respondida: Desejamos fazer parte desta mudança?
Redação do Momento Espírita, com base em versos
do poema Navio negreiro, de Castro Alves.
Em 7.8.2015.
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