Duas amigas não se viam há muitos anos. Reencontraram-se na casa de uma conhecida.
Alegres, conversaram animadamente, tentando colocar as novidades em dia.
Ana tivera formação no Exterior e trabalhava numa multinacional.
Sônia largara a faculdade, casara-se e, no momento, se dedicava à casa e aos dois filhos pequenos.
Enquanto falava da família e reclamava da bagunça, a amiga ouvia com uma ponta de tristeza. Seu casamento não dera certo e ela não podia engravidar.
Atirara-se de cabeça na profissão para esquecer a dor que sentia, postergando o retorno para uma casa vazia e uma vida solitária.
Desejava ter uma família, alguém para ampará-la no futuro e, muitas vezes, sonhava com os filhos que não tivera.
As reclamações de Sônia sobre as dificuldades de cuidar sozinha da prole enquanto o marido viajava, das más-criações, indisciplina, sujeira, falta de colaboração das crianças, a deixavam mais triste ainda, pois não compreendia como algo tão desejado por ela podia ser tão penoso para a outra. Queria ter a vida que a amiga possuía e parecia não valorizar.
Seu pensamento vagava e se via no lugar da amiga, feliz por ter a oportunidade de construir um lar.
Quando Sônia terminou de desfiar suas reclamações, perguntou como era a vida de Ana.
A executiva começou a contar das viagens, do trabalho, das reuniões e dos projetos nos quais estava envolvida. Os olhos de Sônia brilharam. Desejava ardentemente ter aquela vida de realizações profissionais.
Ana prosseguiu, adentrando pelas questões da discriminação e do assédio que sofrera, das traições, intrigas e fofocas de chefes e colegas, da solidão que sentia, do medo de envelhecer só, dos momentos em que estivera doente, sem ninguém para atendê-la, das noites solitárias em hotéis, do isolamento em lugares distantes e, finalmente, da impossibilidade de ser mãe e do imenso desejo de construir uma família.
Parou de falar. Seus olhos se encheram de lágrimas.
Sônia, que inicialmente a invejara, acreditando que o mundo estivesse a seus pés, sem imaginar que pudesse existir empecilhos para a felicidade plena, ficou surpresa e se enterneceu.
Nesse momento, seus filhos entraram no salão, correram em sua direção pedindo colo, chamando-a pelo doce nome de mãe.
As amigas se olharam. Uma não via mais a outra da maneira ilusória de antes. Agora se enxergavam com os olhos da alma.
* * *
Cada um tem a vida que dá conta de viver, de acordo com suas escolhas e realizações.
Quantas vezes desejamos ter outra vida, diferente da nossa, pensando que os outros são mais felizes e realizados?
Quantas vezes invejamos alguém por acreditar que sua vida é plena e possui tudo o que gostaríamos de ter?
Se tivéssemos a oportunidade de conhecer de perto a vida dos que invejamos, nos surpreenderíamos, inúmeras vezes, com a enorme diferença entre o que imaginamos e a realidade.
Antes de invejarmos alguém, lembremos que a realidade é maior e mais complexa do que a fração que nos é mostrada.
Removamos dos olhos as lentes da inveja e, com o tempo, aprenderemos a enxergar mais alegria e beleza em nossas próprias vidas.
Redação do Momento Espírita.
Em 21.4.2015.
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